Entre pacotes legislativos, medidas provisórias, decretos, leilões, viagens internacionais e polêmicas, dois pontos saltam aos olhos nestes 100 primeiros dias da nova administração: a ruptura com o presidencialismo de coalizão e a desconstrução de estereótipos associados ao bolsonarismo durante a campanha eleitoral.
Toma-lá-da-cá
Na rinha entre Palácio do Planalto e Congresso, a velha política se personificou na figura do Presidente da Câmara que pediu por mais “articulação política”. Está para nascer termo mais abstrato e obscuro nas furnas e gabinetes do Parlamento. Em oposição ao diálogo republicano, movido pelo interesse público de esclarecer e aprimorar a legislação, o antigo modus operandi da “casa do povo” tentou se impor no grito. Grito este amplificado pela condescendência da grande imprensa, que quase em uníssono pareceu capitular ao maquiavelismo do toma-la-da-cá de Brasília: para destravar a pauta e aprovar reformas (fins), tornou-se moralmente aceitável negociar cargos e vantagens (meios).
De porta aberta e com testemunhas presentes, Bolsonaro resistiu. E fez bem: o voto parlamentar deve ser reflexo da consciência política do Congressista – não pode estar à venda, ser subserviente a interesse circunstancial ou servir de moeda de troca na barganha com outro poder de Estado. Mais Montesquieu, menos Maia.
Autoritarismo
A julgar pela histeria coletiva da arquibancada rubra nas eleições, caminhávamos para um regime de exceção. O estigma do autoritarismo, fabricado pela máquina de narrativas petista, rompeu os diques da candidatura Bolsonaro e contaminou até seus incautos eleitores. Em semanas, o Brasil se tornou o país mais fascista da história: eram milhões deles armados de…. celular e WhatsApp.
Passada a eleição, a histeria deu lugar ao medo. E corridos 100 dias do novo governo, ainda há quem padeça de uma preocupação latente em relação ao futuro da nossa democracia. Bastaria uma análise menos passional dos fatos para tranquilizar até mesmo os mais impressionáveis.
Afinal, qual o retrocesso legislativo na pauta dos direitos e garantias fundamentais? Há alguma minoria sendo perseguida jurídica ou fisicamente pelo Estado? (Se sim, denuncie nos comentários.)
Governo Republicano
Este Governo não se revelou autoritário e sequer centralizador. Seu Ministro da Economia defende a repactuação federativa em detrimento da União (acerto) e a bancada governista votou em peso a favor do orçamento impositivo (erro), que fortalece o Legislativo e engessa ainda mais o caixa federal.
Com todas as muitas críticas que lhe são devidas, o Governo Bolsonaro fez nossa democracia mais vibrante nestes últimos 100 dias. Ou, pelo menos, mais distante da cleptocracia ainda vigente.
Caio Coppolla. Quer apoiar esta coluna diária? Assine a Gazeta do Povo (promoção).
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