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No afã de uma contenção de danos impossível após as manifestações pelas “Reformas Já” em 26 de maio, a Câmara Federal proibiu o uso da expressão “Centrão” em seus veículos oficiais (rádio, TV e agência). A direção de jornalismo da casa alega que o uso do termo é pejorativo e “institucionaliza um rótulo que só existe como abstração”. Os deputados não querem seu nome associado ao “Centrão” – pega tão mal que está sendo equiparado a xingamento.

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Mas “Centrão” não é palavrão. Centrão é neologismo, fenômeno linguístico que consiste na criação ou ressignificação de uma palavra que seincorpora ao vocabulário.A expressão “Centrão” é uma construção orgânica e não exprime uma narrativa ou uma abstração, mas sim uma realidade tangível detectada pela sociedade. Sua censura é uma violação flagrante da liberdade de expressão e de imprensa (ainda que estejamos falando de mídia estatal chapa-branca). Além disso, a proibição escancara o autoritarismo das lideranças parlamentares, que não aceitam serem chamadas pelo que são.

O Centrão é o bloco político que controla o Congresso Nacional atuando como fiel da balança para aprovação de textos legais. O grupo opera sob os auspícios do articulador-mor da República, o presidente da Câmara Federal, deputado Rodrigo Maia. O Centrão não vota com racionalidade, convicção ou patriotismo; vota por interesse, oportunismo ou pressão (popular, midiática, lobista etc.). O Centrão não tem ideário coerente ou visão de Estado; é maquiavélico e enxerga a curtíssimo prazo. O Centrão não tem espírito público; está a serviço de oligarquias, corporações e grupos de interesse. Mas principalmente, o Centrão é fisiológico: tem vocação para se associar ao Poder Executivo em benefício próprio; gruda no governo para barganhar vantagens, cargos e verbas em troca do seu apoio político – o ápice do fisiologismo na história recente foi o Mensalão, que usava dinheiro público de propina para subornar o Congresso e torna-lo subserviente ao Lulopetismo.

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Só que os tempos e os ventos mudaram. O Centrão não contava com a convicção patriota do novo presidente da República, que resolveu romper com a tradição (vício!) do toma-lá-da-cá – o tal presidencialismo de coalizão para os mais afeitos a eufemismos. É um fato que ministérios e cargos do governo Bolsonaro não foram loteados para os caciques dos partidos políticos, uma praxe em todos os governos anteriores. Como bem diagnosticou o ministro Paulo Guedes, “piratas privados, burocratas corruptos e criaturas do pântano político se associaram contra o povo brasileiro” – está aí a síntese do modus operandi da cleptocracia emedebista-tucano-petista das últimas décadas. O Centrão é resquício desses tempos... e não chega a ser palavrão, mas é uma desgraça pra democracia.

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