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Dentre as escassas surpresas positivas deste finado mês de janeiro, destaca-se a reação indignada da advocacia brasileira à perversão da defesa criminal. Esse direito constitucional, que legitima as sentenças penais do Estado, tem se deformado em um expediente ideológico pela impunidade, que reabilita corruptos inveterados enquanto enriquece seus agentes. Em nota pública de repúdio, mais de 1.000 advogados interromperam o silêncio eloquente da OAB e rechaçaram declarações avessas ao interesse público proferidas por seus colegas militantes, bandidólatras e bajuladores:
“Os Advogados signatários desta nota vêm à público MANIFESTAR REPÚDIO no tocante às falas dos advogados Alberto Toron que proferiu “ Lula é o símbolo mais elevado da Justiça” e Antonio Claudio Mariz que disse “se o crime já aconteceu, o que adianta punir, que se puna, mas que não se ache que a punição irá combater a corrupção” durante a realização de evento em homenagem ao ex-presidiário Luís Inácio Lula da Silva patrocinado por um grupo de advogados autodenominados “Prerrogativas” que não reflete e nem se amolda aos valores, princípios e preceitos éticos e morais primados e defendidos pela classe dos Advogados brasileiros. A Advocacia brasileira não glamouriza o crime, o criminoso, a injustiça, a impunidade e a corrupção.”
Segundo a nota, políticos que respondem a processos criminais “sabem que terão guarida através da atuação de ‘poderosos’ profissionais que conhecem como transitar nas brechas da lei e nas sombras dos processos, não em busca do reconhecimento de sua inocência, mas de um estratagema nefasto que impeça que a Justiça seja aplicada”.
Os signatários também se insurgiram contra outra “manifestação esdrúxula proferida em momento de êxtase ideológico para agradar e amaciar o ego inflado do ex-presidiário Lula”: o dr. Mariz assegurou que a “advocacia brasileira assumiria um compromisso de estar ao lado de Lula, procurando recolocá-lo na Presidência da República.” Não senhor! A Advocacia brasileira não compactua com essa fala e nem assumirá compromisso de caminhar ao lado de um criminoso condenado pela Justiça para recolocá-lo na Presidência da República. Se tal premissa se concretizar, demonstrará que o Brasil é um País doente em estado terminal de uma sepse combinada de corrupção, injustiça e impunidade.”
A nota é um lampejo de sensatez num debate público monopolizado pela histeria a soldo daqueles que enricam a cada traste milionário livrado da justiça – ou livrado pela Justiça, o que o leitor preferir. A jornalista Thais Oyama descreveu o Prerrogativas, coletivo de (des)aplicadores do Direito, como a “fina flor dos advogados criminalistas do país, daqueles que só topam se sentar para conversar a partir de sete dígitos” e são afeitos ao “agradável som do tilintar de moedas”.
Dentre os “causídicos das bancas de ouro” empenhados na causa petista, um nome se destaca pelo comportamento oportunista e sabujo dispensado a Lula: o já citado Antonio Claudio Mariz. Alcunhado pelo espirituoso Augusto Nunes como doutor em cinismo, Mariz coleciona clientes notórios como os assassinos Pimenta Neves e Suzane von Richthofen. Contudo, foi a defesa de Michel Temer, um amigo de longa data, que recolocou Mariz na periferia dos holofotes à espera de uma nomeação para Ministro da Justiça. O cargo não veio e Mariz se foi... para o colo de Lula, a quem agora jura vassalagem incondicional – em seu nome e em nome de toda a categoria que não representa, como ficou explícito na nota de repúdio acima.
Dos bastidores pelo impeachment de Dilma ao compromisso vexatório com a candidatura de Lula, a pirueta política do fluido dr. Mariz salta aos olhos, mas a infidelidade não surpreende: sua laia se notabiliza por colocar interesses particulares (seus e dos clientes) acima de questões comezinhas como a coerência, a ética, a verdade e a justiça. Flagrado em vídeo advogando sua antiga tese de que “não se combate crimes e corrupção com cadeia”, o protagonista da maior vergonha pública da história nas carreiras jurídicas já teve oportunidade de se defender da incompreensão da sociedade sobre a atuação de certos criminalistas e seus respectivos honorários, tão altos quanto suspeitos:
“Essa é uma grande hipocrisia da sociedade, que valoriza tanto o “ter”, que aplaude quem ganha dinheiro, o artista, o jogador de futebol, o banqueiro, o cantor. Essa sociedade aplaude quem tem dinheiro e crítica honorários de advogados. Esses são valores devidos pelo nosso trabalho. É um contrato bilateral. Você pede, alguém aceita e paga” – exceto no caso dos corruptos atendidos por Mariz e seus colegas, onde é a sociedade que paga pelo crime e pela defesa, enquanto o advogado finge ignorar a origem da sua elevada remuneração.
Mas parece que, dessa vez, o doutor em cinismo errou na pedida ao exortar profissionais direitos do Direito a reconduzirem à Presidência da República alguém incapaz de cumprir as leis do país. Errou também ao se despir publicamente dos trapos de moralidade que ainda cobriam suas vergonhas intelectuais... agora é explícito! – a advocacia que ele pratica, as ideias que ele defende e os círculos que ele frequenta. Que a reação a tudo isso não seja pontual e que o “efeito Mariz” desencadeie a exposição das teses (e dos cúmplices) do lulopetismo nas bancas criminais.