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Caio Coppolla

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Análise

“Sou cristão e voto Lula”

Lula busca se aproximar de evangélicos. (Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula)

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Em editorial recente – argutamente intitulado “Suprema Camuflagem” – a Gazeta do Povo desvelou o eufemismo mais comum para a defesa do aborto como política pública: uma garantia dos direitos sexuais e reprodutivos das mulheres. A manutenção e expansão desses supostos direitos consta de carta pública subscrita pela ministra Carmen Lúcia, em clara afronta à lei, que veda a manifestação de magistrados sobre processos pendentes de julgamento. Três outros integrantes do STF, Luís Roberto Barroso, Edson Fachin e Rosa Weber já votaram – ou melhor, inventaram – que a proibição do aborto no primeiro trimestre de gestação é inconstitucional. Segundo a última pesquisa Datafolha sobre o tema, os quatro ministros fazem parte de uma minoria pouco expressiva: 75% da sociedade brasileira é a favor da proibição total do aborto (41%) ou da manutenção da lei atual (34%), que já autoriza o procedimento nos casos de gestação resultante de estupro, risco de vida para a mãe ou gravidez de feto anencéfalo.

Há outro denominador comum entre os togados pró-aborto: foram todos indicados pelos governos do PT, o mesmo partido que combateu com afinco a confirmação ao Supremo de André Mendonça, único ministro a declarar publicamente sua fé evangélica até hoje. Ao invés de celebrar a diversidade no tribunal, a esquerda promoveu uma vergonhosa campanha de difamação ancorada em preconceito religioso. Mas enquanto seus asseclas no Congresso (e na imprensa) questionavam a credibilidade de Mendonça por sua opção confessional, Lula, o pecador impenitente, acenava para o povo evangélico admoestando o próprio partido pela miopia eleitoral em um encontro virtual:

“[O PT] é um partido que não pode acreditar na história de que os evangélicos e as evangélicas são como se fossem gado; são tangidos por aqueles que querem mentir” e acrescentou: “Aliás, essa reunião [...] nos mostra que a gente deveria criar, na televisão do PT, na Rádio do PT, um momento evangélico.”

Como o próprio capo dei capi reconhece nas entrelinhas, o Partido dos Trabalhadores reputa o povo evangélico como gado: uma massa acrítica e homogênea – que, todavia, representa cerca de 30% da população e, consequentemente, não pode ser ignorada... pelo menos não em época de eleição.

Contudo, a sagacidade eleitoral de Lula contrasta com as ações e sentimentos de seus correligionários. Até ontem, lideranças da esquerda brasileira tratavam as Igrejas evangélicas como concorrentes. Gilberto Carvalho, homem forte de Lula no governo Dilma, fez a seguinte convocação em 2012:

“O Estado deve travar uma disputa ideológica pela nova classe média [...] Lembro aqui, o papel da hegemonia das igrejas evangélicas e das seitas pentecostais”.

Tom parecido foi adotado por Guilherme Boulos (PSOL) em artigo para a Folha de S. Paulo, ao afirmar que a esquerda, acomodada nas instituições do Estado (i.e. mamando nas fartas tetas do governo e/ou pendurada em cabides de emprego) deixou espaço aberto para o “avanço neopentecostal”. Esta, sim, é a visão prevalente entre os sectários de Lula: a religião como método de doutrinação política a serviço de um projeto de poder.

O que petistas e esquerdistas em geral pensam de verdade sobre a fé evangélica – ou mesmo sobre a fé em Deus – torna-se irrelevante diante da revelação feita há alguns anos por Dilma Roussef, com brutal sinceridade: “nós podemos fazer o diabo quando é a hora da eleição”. Assim, não seria de espantar uma aliança do PT com líderes evangélicos coniventes com a agenda pró-aborto e lenientes com a corrupção, o roubo de cidadãos pobres por políticos ricos. Do Partido dos Trabalhadores, segundo os próprios, podemos esperar até o diabo; já dos religiosos, devemos nos fiar nas lições bíblicas, certos de que cada tempo tem seus vendilhões do templo. E parece que Lula encontrou o seu, o pastor Paulo Marcelo Schallenberger, com quem o ex-condenado não-arrependido se reuniu por horas no instituto que carrega a sua graça (e desgraça).

Da polícia à política, a biografia recente de Paulo Marcelo tem passagens curiosas. Em 2014, após denúncia de um suposto credor por ameaça, ele foi detido por posse de drogas e arma de fogo numa operação de busca e apreensão realizada por agentes do Grupo de Diligências Especiais (GDE) da 6ª Subdivisão Policial de Foz do Iguaçu (PR). O pastor alegou que tanto a arma quanto a substância pertenciam a um segurança contratado. Seis anos mais tarde, em 2020, o pastor Paulo Marcelo se candidatou pelo Podemos ao cargo de Vereador da cidade de São Paulo, onde obteve parcos 4.486 votos, insuficientes para assegurar uma cadeira na Câmara Municipal, mas bastantes para demonstrar sua falta de representatividade. O pastor (agora) lulista permanece no partido de Sergio Moro – de quem sente repulsa – mas alega que a filiação foi apenas uma questão de conveniência e que avalia sua migração partidária, associada, é claro, com a candidatura a algum cargo político.

De Lula, o pastor Paulo Marcelo recebeu a missão (sub)terrena de aproximar o PT dos fiéis. Entre as iniciativas que contam com a benção do ex-criminoso, está a criação de núcleos evangélicos em todos os Estados, cada um com aproximadamente 200 pastores. Além disso, para concretizar a ideia do momento evangélico, Paulo Marcelo comandará um podcast nas mídias petistas com produção assinada por Silas Bitencourt, conhecido empresário de artistas gospel e idealizador de um popular reality show evangélico. O estúdio será na sede do PT na capital federal, mas, por ora, a cenografia e a identidade visual não incluirão a icônica estrela vermelha do partido – faz sentido: o pentagrama é de inspiração comunista, ideologia responsável pela perseguição e assassinato em massa de cristãos. Se por um lado a estratégia de comunicação envolve esconder o símbolo histórico do partido, por outro os idealizadores do programa querem antecipar e expor o voto da sua audiência com a promoção de hashtags como #SouCristãoEVotoLula.

É forçoso reconhecer que, quando se trata de propaganda e disseminação de narrativas, a esquerda faz sua lição de casa. Dessa vez, a mensagem do PT para os evangélicos é tão simples quanto falaciosa: o lulopetismo (agora abraçado ao progressismo) não atua contra os valores familiares, nem contra a moralidade cristã. É uma mentira de fazer inveja ao tinhoso. Esqueçamos (por um momento) o fato de que o partido-quadrilha roubou dos pobres para dar aos ricos no maior esquema de corrupção da história e foquemos apenas na questão da família. Laços familiares e comunitários (como uma congregação religiosa) prejudicam a influência do Estado sobre o indivíduo e, não à toa, sempre que pode, a esquerda atua para criar vínculos de dependência entre o cidadão e o governo, limitar o pátrio poder, desconstruir a referência tradicional de família e relativizar o direito à vida do nascituro, indefeso e inocente.

A esquerda brasileira é amplamente favorável à legalização do aborto por conveniência e, se pela via congressual essa ideia não prospera graças à pressão da opinião pública, há a opção de atropelar o processo legislativo via STF, o que já está acontecendo. A propósito, o próximo Presidente da República indicará dois nomes ao Tribunal e, como vimos, Lula já está operando para ludibriar os evangélicos a votarem em desacordo com sua própria moralidade. Ao induzir pessoas de fé a agirem contra seus valores religiosos, Lula e seu pastor Paulo Marcelo conquistam cada vez mais estrelinhas-vermelhas-de-5-pontas junto ao Pai da Mentira – é um prêmio de consolação caso a suprema camuflagem seja exitosa também na eleição.

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