A última investida de Hugo Chávez para consolidar seu socialismo latino-americano foi no campo da informática. Em vez de apoiar uma das inúmeras iniciativas existentes para produzir computadores populares, o coronel preferiu anunciar um equipamento próprio – já apelidado de “PC bolivariano”.
De acordo com Chávez, o computador será fabricado pela Venezoelana de Industria Tecnológica (VIT) – uma joint venture entre a estatal Venezuela Industrial S.A. e o grupo Inspur (ex-LangChao), da China. O aparelho será oferecido em quatro modelos, virá equipado com procesadores Intel Celeron ou VIA de 1,4 a 2,1 GHz, 128 MB ou 256 MB de RAM, 40 GB de HD, sistema operacional livre e custará entre US$ 470 e US$ 790 (um preço absurdo para um PC que se pretende popular). “Nosso computador custará 40% menos que similares de marcas tradicionais. Além disso, tem valor agregado, pois conta com software livre e três anos de garantia”, bradou o presidente venezuelano.
Após tal declaração, são inevitáveis conjecturas sobre o conhecimento de Hugo Chávez (foto) na área de tecnologia – afinal ele citou, com ar de propriedade, “similares de marcas tradicionais” e “o valor agregado pelo software livre” (seja lá o que ele quis dizer com isso). Não fosse a foto ao lado, do falastrão com a tradicional camisa vermelha, poderíamos até pensar que a afirmação estaria vindo de um grande executivo do setor. Héctor Ruiz, da AMD, quem sabe? Talvez Paul Otellini, da Intel? Ou ainda o chefão da IBM, Samuel Palmisano? Mas não, ela veio do líder venezuelano.
Com isso, acaba o devaneio envolvendo Chávez, bits e bytes, Bolívar, memória RAM e hard disks. O “PC bolivariano”, afinal de contas, não é um computador, mas uma peça publicitária do regime chavista. É uma pena que, em nome de ideologias vazias (“libertar a Venezuela da dependência tecnológica” – como se os componentes do tal computador não fossem importados), os venezuelanos fiquem de fora de projetos como os levados a cabo pelo pesquisador Nicholas Negroponte e sua organização One Laptop per Child (OLPC), pela Intel e por várias companhias asiáticas, que vêm se esforçando para fabricar notebooks de menos US$ 200.
Quando forem oferecidas a governos e instaladas em escolas públicas e centros comunitários de países pobres, estas máquinas baratas terão o potencial de iniciar uma revolução, incluindo milhões de pessoas no mundo digital da comunicação e da informação. E é aí que se esconde a questão: o presidente venezuelano, ao anunciar um PC de US$ 700 e chamá-lo de “popular”, revela que não está lá muito interessado em levar mais informação à população. Por que será?
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No último dia 25 de maio, Hugo Chávez ensaiou sua estréia nos noticiários de tecnologia. Naquela data, ele disse que o game Mercenaries 2: World in Flames, a ser lançado pela produtora Pandemic Studios, faz parte de uma campanha pró-invasão da Venezuela — arquitetada pelos falcões de plantão na Casa Branca e no Pentágono. Mercenaries 2 realmente será ambientado na Venezuela, mas a desenvolvedora do game nega qualquer relação com os interesses políticos e bélicos de Washington. O site da BBC News traz a cobertura completa a respeito da controvérsia.
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