Não é de hoje que Google e Microsoft andam em pé de guerra. O extraordinário é que a briga das duas maiores empresas de tecnologia da atualidade está inflacionando o mercado on-line e, quem sabe, até criando uma bolha especulativa. E isso não é nada bom.
Poder para mexer com a economia global elas têm de sobra. Só para se ter uma idéia, o valor de mercado somado das companhias atinge incríveis US$ 565 bilhões – ou 50% do PIB brasileiro.
O atual estágio da disputa ganhou os holofotes quando, há duas semanas, a Microsoft arrematou uma fatia mínima (1,6%) da rede social Facebook por US$ 240 milhões. Com isso, o portal de relacionamento – uma espécie de Orkut mais completo e interessante – passou a valer US$ 15 bilhões.
No contrato firmado entre Facebook e Microsoft, a empresa de Bill Gates se transformou na responsável pela administração da publicidade veiculada no site. Mas isso não explica o valor inflado do acordo. Por mais que a gigante de Seattle insista que o negócio é estratégico e que, sim, valeu a pena, ninguém duvida que a transação só atingiu o patamar estratosférico por causa do interesse do Google, que também fez propostas para adquirir parte da rede social.
Um ano atrás, o mesmo Facebook rejeitou uma oferta de compra, de US$ 1 bilhão, feita pelo Yahoo!. Tendo em vista a recente investida da Microsoft, é como se desde então o site ficasse 116% mais caro a cada mês!
Obviamente o Facebook não vale US$ 15 bilhões. Com 300 funcionários e um faturamento anual na casa dos US$ 100 milhões, a empresa foi percebida pela Microsoft como uma potente arma da Web 2.0, o terreno dos aplicativos on-line em que o rival Google é dominante. Também foi negociada com base no seu potencial de crescimento (que é grande) e em aspectos intangíveis, como valor da marca e fatia de mercado no ambiente virtual.
O risco está no inchaço exagerado da “wikinomia” – a economia da web. Lembrando: na virada do milênio, as empresas pontocom estavam muito valorizadas e havia muita especulação nas carteiras de ações de tecnologia. A partir do momento em que o mercado percebeu que papéis de companhias como CDNow, GeoCities, Boo, Altavista e InfoSpace não poderiam valer tanto, seguiu-se uma quebradeira generalizada. O tremor se espraiou, Cisco, eBay, VeriSign, IBM e Time Warner (dona da America Online) perderam bilhões e centenas de milhares de investidores ficaram a ver navios.
Voltando para o presente: o Google foi apontado pela revista britânica The Economist como responsável por uma eventual “Bolha 2.0”, que estaria atualmente em formação. Mas a empresa de buscas não está só nesta euforia. O arremate do Skype pelo eBay, há 2 anos, está dando dor de cabeça para muita gente. A empresa de VoIP, apesar de toda a fama, não deslanchou financeiramente. Agora, o eBay espera que o Skypephone (foto), celular recém-lançado na Europa na Ásia, faça a subsidiária lucrar mais – sob pena de ter uma fatia repassada adiante.
Rupert Murdoch e sua News Corporation, Yahoo!, Sun Microsystems, Apple e Microsoft também embarcaram na onda atual, e foram às compras. Para muitos analistas, eles estão ajudando a inflacionar o mercado e, pior, supervalorizando-se.
É bom ressaltar que nem toda bolha explode. Alguns períodos de valorização excessiva justificam-se no futuro. Nada impede que as empresas que recebem uma enxurrada de dólares cresçam de maneira robusta e sustentável, devolvendo aos investidores um bom retorno financeiro.
Fato é que a Microsoft cansou de perder terreno para o Google, com a perda de YouTube e DoubleClick no ano passado, e respondeu jogando um caminhão de dólares no Facebook. O Google, em tom blasé, deu de ombros e fechou um acordo com o MySpace, que ainda é a maior rede social do mundo. Juntos, eles oferecerão o OpenSocial, que permitirá a criação de aplicativos para o Orkut e para o próprio MySpace, além de ser aberto para diferentes portais.
Tomara que a bolha seja resistente e que os serviços on-line sejam cada vez mais valiosos. Vida longa e próspera a Google, Microsoft e afins!