O curitibano provavelmente vai ficar sem ônibus nesta terça-feira. Será a quinta greve em cinco anos. Veja quais são alguns motivos que levam à paralisação:
1- Licitação mal feita
A licitação de 2010, a única feita até hoje no transporte público da capital, não conseguiu atrair nenhuma empresa de fora para concorrer com as concessionárias da cidade. O motivo era simples: as empresas daqui puderam usar uma dívida milionária para abater o preço de entrada no edital. As de fora sairiam com cerca de R$ 250 milhões de desvantagem.
2-O drama da tarifa
O grande problema do transporte coletivo da cidade hoje é o estabelecimento de uma tarifa que atenda a todos os interessados. As empresas dizem que o valor da tarifa técnica atual, de R$ 3,21, não cobre as contas. A prefeitura insinua que o problema não é o repasse, mas a má gestão dos recursos. E não quer elevar mais a tarifa até por razões políticas: isso pesaria mais no bolso do cidadão.
3- Falta de opção
As empresas de ônibus chegaram, num blefe, a dizer neste ano que, se a prefeitura não estivesse satisfeita, que cancelasse os contratos e fizesse nova licitação. Para isso, porém, queriam a indenização prevista em contrato. Na prefeitura, porém, fala-se que isso seria impossível porque essas são basicamente as únicas empresas do setor na cidade – não haveria quem as substituísse. Sabendo disso, as empresas poderiam jogar mais pesado com a Urbs.
4- Falta de transparência
Hoje, a planilha da Urbs é de conhecimento público. A partir do momento em que o dinheiro entra no caixa das concessionárias, porém, é difícil acompanhá-lo. As empresas realmente estão no vermelho? Quanto têm de lucro? Quanto ganham seus sócios e diretores? A falta de dinheiro para pagamento do vale decorre do contrato atual com a Urbs ou de outros compromissos?
5- Falta de inovação
Um dos modos de baixar a tarifa do ônibus é conseguir mais passageiros para dividir a conta. Mas o ônibus curitibano não tem tido essa capacidade. Primeiro, porque o carro se tornou ubíquo na cidade. Segundo, porque faltam inovações. Ainda há poucas faixas exclusivas, o ônibus de Curitiba não tem integração temporal e o sistema que anunciaria o horário para os passageiros no ponto, por exemplo, continua como mera promessa para o futuro.
6- Gastos polêmicos
As gestões da prefeitura anteriores aumentaram gastos do sistema com inclusão de ônibus híbridos. O Hibribus é muito mais caro do que os convencionais, a R$ 700 mil por unidade. O próprio Tribunal de Contas afirmou que esse é um dos itens que encarece a tarifa.
7- Sindicatos unidos
Uma situação curiosa em Curitiba é que o sindicato patronal (das empresas) e o dos trabalhadores (motoristas e cobradores) acabam defendendo os mesmos interesses nessa situação. As empresas têm usado sempre o mesmo expediente: anunciam dificuldade de pagamento e demissões. Os funcionários, como reação, param o sistema. Quem ganha no longo prazo são as empresas, que têm nisso um instrumento para pedir aumento da tarifa técnica.
8- Crise econômica
Fosse essa uma época de vacas mais gordas, a prefeitura de Curitiba provavelmente toparia colocar dinheiro do tesouro no sistema para evitar o confronto. Mas atualmente a prefeitura pena para cumprir seus compromissos (como o pagamento de décimo terceiro) e não cogita qualquer solução do gênero.
9- Disputa com o governo
Quando o prefeito de Curitiba era Luciano Ducci (PSB), o governador Beto Richa (PSDB), seu padrinho político, começou a injetar dinheiro de subsídio do governo do estado no sistema. Eram R$ 64 milhões por ano, na época. Quando Fruet assumiu, houve uma ruptura. Mais tarde, numa disputa entre as parte, o sistema com a região metropolitana foi desintegrado, acabando de vez com o subsídio.
10- Insatisfação das empresas
Além de estarem insatisfeitas com a Urbs em geral, as empresas também estão irritadas com políticas específicas, como o desconto por não cumprimento de metas e as declarações de Fruet e do presidente da Urbs, Roberto Gregório, que as acusam de locaute.
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