Michel Temer chegou a seu ponto mais baixo na escala de popularidade. Em apenas um ano de governo, conseguiu um desgaste que o PT levou 13 anos e dois megaescândalos para atingir. Temer, mais do que nunca, é agora um zero à esquerda na política nacional. E, por estranho que pareça, pode ter sido exatamente esse o plano.
Não o plano do próprio Temer, quem sabe. Mas de quem o levou à Presidência. Cada vez mais parece que a ideia de fazer o impeachment apenas de Dilma Rousseff e deixar o seu vice no poder era uma estratégia do PSDB. Criar um boi de piranha que levasse o partido de volta ao Planalto em 2018.
O raciocínio nem é muito complicado. Em 2014, Aécio Neves começou a campanha falando o óbvio. Quem quer que assumisse teria de se prestar a um papel difícil, de adotar “medidas impopulares”. Viu que esse discurso não o levaria a nada (só Gustavo Fruet faz campanha assim, e veja-se com que resultados) e esqueceu o assunto.
A crise era evidente e iminente. Só Dilma e seus marqueteiros fingiam que o país ia às mil maravilhas. Não ia. E seria necessário apertar o cinto, fazer reformas etc. Aécio não se elegeu e talvez ele mesmo esteja agradecendo aos céus até hoje. Teria ficado com um abacaxi gigante nas mãos.
Se o PT deu o azar de ganhar 2014, o PSD deu uma tremenda sorte. E deu mais sorte ainda quando viu Dilma naufragar. E achou sua mina de ouro quando percebeu que poderia colocar no poder alguém que faria uma “ponte para o futuro” do partido. Um sujeito ambicioso que toparia tudo para assumir a Presidência.
Temer não era unanimidade entre os detratores de Dilma. E em parte era por isso que o impeachment, já pedido nas ruas, não saía. Mas em algum momento, por algum motivo, Temer conseguiu convencer o PSDB de que ele era a saída. E bolou-se o impeachment parcial, só de Dilma.
O apego do PSDB pelo “mandato” de Temer ficou ainda mais evidente quando o novo presidente se viu afundado em delitos muito mais graves do que os da antecessora, e muito mais palpáveis. Mesmo com provas, gravações e o escambau, o PSDB relutou até o último instante em sair.
Conseguiu, por enquanto, salvar seu reformista. O homem que, do ponto de vista dos tucanos, tem a missão de tomar as medidas impopulares que o partido acha necessárias mas que não quer fazer nem prometer – para não ficar com o ônus.
No mundo ideal dos tucanos, Temer aprovaria todas as reformas, sairia de cena no zero de popularidade e deixaria campo limpo para um candidato antipetista e reformista assumir sem precisar falar em mudanças. Só em melhorias a partir do campo arrasado deixado pelo vice de Dilma.
Quase deu certo.
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