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O eleitor brasileiro tem muito motivo para estar irritado. Mas não pode se queixar de falta de diversidade entre os candidatos a presidente. Há opções de todo tipo, da esquerda à direita; dos estatistas aos que querem, literalmente, privatizar tudo; dos que aceitam qualquer tipo de aliança aos que não aceitam aliança alguma; dos que têm mais experiência aos que prometem ser novidade.

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Este blog não irá tomar partido por nenhuma destas candidaturas – assim como, em 12 anos de história, jamais tomou partido por candidatura alguma. Há muitas delas que são defensáveis, dependendo do ponto de vista do eleitor e de sua ideologia. Embora defenda algumas causas, o Caixa Zero acredita que não é papel do jornalista dizer ao seu leitor em quem votar. Trata-se, muito mais do que isso, de dar informações sobre os candidatos para que a pessoa possa tomar uma opção bem informada.

Neste ano, a mesma regra segue valendo. Porém, com uma diferença. Por uma série de circunstâncias, há uma candidatura entre as favoritas que é absolutamente inaceitável do ponto de vista democrático. E este blog acredita que é, sim, seu papel, alertar para o risco que a democracia brasileira corre neste momento. É evidente que estamos falando de Jair Bolsonaro.

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Os outros candidatos todos têm defeitos – cabe ao leitor decidir quais são graves a ponto de tornar impossível o voto naquela pessoa. Mas todos jogam dentro das regras da democracia. Bolsonaro é uma triste exceção, que precisa ser destacada. Não é possível considerar que se trate de “apenas mais um nome” na disputa presidencial. Sua vitória, improvável, mas possível, seria trágica.

Em entrevistas que estão disponíveis para qualquer um na Internet, Bolsonaro diz claramente que, caso fosse presidente, mandaria imediatamente fechar o Congresso – primeira providência de qualquer ditadura. Que a solução para o Brasil não passa pelo processo democrático, e sim por uma guerra civil. Que é preciso matar 30 mil pessoas, ainda que entre eles haja inocentes.

DESEJOS PARA O BRASIL: Democracia aprofundada

Bolsonaro já falou em fuzilar o então presidente Fernando Henrique Cardoso. Nesta semana, ameaçou metralhar desafetos petistas no Acre. Está condenado judicialmente por dizer que não estupraria uma deputada “porque ela não merecia”. Trata as mulheres como seres inferiores – disse que teve quatro filhos e, na quinta vez, “deu uma fraquejada” e teve uma menina.

É racista. Ao falar de quilombolas, disse que eram inúteis e que o mais leve tinha “sete arrobas” – medida que se usa para pesar animais, não humanos. É homófobo. É contra quem pensa diferente dele.

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Eliminados todos os outros, fica claro que Bolsonaro só considera dignos de seu respeito como iguais os homens brancos heterossexuais que pensem como ele. Se considerarmos que a Constituição brasileira diz já em seu início que todos somos iguais, é evidente que não se trata de alguém em condições de governar o país.

Bolsonaro defende escancaradamente a ditadura de 1964, tratando como revolução algo que toda a historiografia sabe ser um golpe. Para fazer valer sua mentira, diz que os historiadores é que são mentirosos. Defende a tortura: em seu discurso no impeachment de Dilma, elogiou o maior crápula dos porões da tortura no regime civil-militar, o coronel Ustra.

O candidato, além de tudo isso, é visivelmente despreparado. Não entende de nenhum dos problemas de fato do país. Já deixou claro que não sabe de economia – mesmo tendo passado seis mandatos no Congresso, é incapaz de dizer o que é o tripé macroeconômico que rege nossa política desde FHC, algo que qualquer um que leia jornais saberia responder.

Sua candidatura, segundo alguns, representa apenas um protesto. Um sinal de profunda frustração com a política. É compreensível: nossa política vai de mal a pior. Mas não é defensável substituir algo problemático por outra opção visivelmente pior – não podemos aceitar a volta da ditadura, da tortura, o desrespeito aos princípios básicos da democracia.

O que temos não é muito. Mas levou décadas para construir. Jair Bolsonaro significaria uma política de terra arrasada. Perder o pouco que temos em nome de um protesto não faz o menor sentido. É preciso parar com essa loucura já antes que ela traga consequências ainda mais trágicas para o país.

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