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A Curitiba de Greca e dos Gulin voltou. E não foi bem recebida

“Curitiba vai voltar”, dizia Rafael Greca na campanha. Em certo sentido, pouco mais de um mês depois de sua posse, a cidade dos anos 1990 realmente voltou. Voltou, por exemplo, a cidade em que a prefeitura joga junto com os empresários de ônibus – que ainda são os mesmos da época em que Greca governou (alguns são os mesmos da época em que ele nasceu).

A Curitiba dos Gulin teve um período difícil nos últimos quatro anos. A tarifa técnica foi contestada. O prefeito resolveu, num ato de populismo, baixar a tarifa mais do que podia, para cessar os protestos de 2013. A Câmara, sem Derosso, fez uma CPI e mostrou que a tarifa estava superestimada. O Tribunal de Contas contestou a “licitação” em que só os mesmos empresários de sempre participaram.

Os Gulin e seus associados não deixaram barato. Deixaram de comprar ônibus e hoje a população anda em centenas de carros com a vida útil vencida – ônibus que, segundo seus próprios donos, vivem dando problemas. Também atrasaram salários até que os empregados do sistema resolvessem fazer uma greve depois da outra. Difícil saber até onde isso influenciou na derrota eleitoral de Fruet. Mas o peso não foi pequeno.

Agora, prefeito e empresários voltam a falar a mesma língua. “As coisas custam o que custam”, diz Greca. E nisso tem razão. O problema é que, segundo o TC, a Câmara e a prefeitura antes dele, as coisas não custam o que dizem os Gulin. Mas o prefeito resolveu, mesmo assim, tascar R$ 4,25 na passagem – e, no primeiro mês, o dinheiro serve só para fazer caixa. São quase R$ 10 milhões antes do aumento da tarifa técnica.

Antes de assumir, Greca dizia que o aumento da tarifa seria um “espinho no coração do prefeito”. Uma imagem poética que dava a entender que quem sofreria mais era ele próprio. (Beto Richa, após bombardear o professorado, também disse que foi ele o mais machucado.) O que deveria ser um espinho metafórico virou nova praça de guerra na cidade.

Greca, nos anos 90, governou antes das redes sociais e antes desse novo tipo de protesto que se espalhou na cidade a partir de 2013. Na época, eram 20 os centavos que levaram multidões Às ruas. Agora, o aumento foi de R$ 0,55 – quase o triplo. Não era um espinho o que esperava o prefeito.

Os atos de vandalismo dos manifestantes são indesculpáveis. Quebrar vidros, pichar, barbarizar só tira legitimidade do protesto. Dá à PM margem para dispersar e para atacar com armamento violento, como fez nesta segunda. Além do mais, atacaram quem nada tinha a ver com o aumento. Coisas de gente que se acha politizada mas que pensa com o fígado.

Greca terá que se adaptar a um mundo em que as decisões do prefeito não são só seguidas de loas, como nos anos 90. A imprensa é diferente, a Câmara tem mais liberdade e até o Tribunal de Contas (até o Tribunal de Contas!) às vezes trabalha em favor de reduzir o gasto público. Espinho no coração? Não é bem isso o que espera quem aumenta o ônibus para R$ 4,25.

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