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É difícil entender os manifestantes pró-petistas que atacam o julgamento do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. É claro: os réus vão espernear, dizer o que for para tentar se livrar, senão da pena, pelo menos da imagem de corruptos.

José Dirceu afirmar que se trata de um “tribunal de exceção” ou coisas do gênero é natural. O ex-ministro sempre achou, pelo que se entende, que estava lutando contra forças políticas maiores. E é de se acreditar que tinha em mente um plano político, muito mais do que de enriquecimento ilícito.

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Agora, vai chiar, vai tentar passar a imagem de que vivemos em uma ditadura econômica em que ser de esquerda é crime, em que lutar por um projeto político contrário ao pensamento da elite não passa sem punição etc.

Pura balela, obviamente. A denúncia sobre o mensalão foi feita inicialmente por aliados do PT. No Ministério Público, o caso foi tratado por dois procuradores-gerais nomeados pelo PT. No STF, o caso foi julgado por sete ministros indicados por Lula e Dilma.

Mas agora o Judiciário é do mal. Assim como a mídia sempre foi. É claro: se alguém pega um político enfiando a mão no jarro, a culpa vai ser sempre de quem flagrou. Não podia ter filmado. Tiraram de contexto. Não há provas. As provas são ilícitas.

José Dirceu e o grupo todo de réus pode alegar o que quiser. Mas biografia não dá imunidade para que alguém cometa crimes. E as regras jurídicas que eles desrespeitaram são claras. Sem falar no problema moral.

O que mais espanta, porém, não são os réus. Eles estão à beira de ir para a cadeia, e o esperneio é natural. mas o que exatamente querem os militantes que nada têm a ver com isso e que compram as dores dos condenados?

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Ao que parece, trata-se de um caso de incapacidade de julgamento causado pela história recente do país. Nos anos 80, quando o PT começou a ganhar força, foi o partido do contra. Contra a corrupção. Contra a elite que explora os trabalhadores. Contra “tudo isso que está aí”, como se dizia.

O partido ganhou corpo fazendo esse discurso. Seus integrantes combateram a ditadura. Eram saídos das classes populares, do sindicalismo, do operariado. Não tinham o viés elitista do PDS. Não tinham os arrivistas do PMDB. Tinham as mãos calejadas e limpas.

Era um discurso bonito. E fácil. E ao mesmo tempo empolgante. Quem não queria ver reduzida a dívida externa, ver assentados os sem-terra, dar melhores condições de trabalho aos operários, ao povão? E num país em que a elite econômica é voraz e dominadora, claro que havia espaço para que o partido prosperasse.

Criou-se uma mítica militância do PT. Logo, o partido tinha mais votos de legenda do que qualquer outro. Não havia mais “emedebistas velhos de guerra” quase. Mas os petistas estavam na rua, bandeirinha nas mãos, estrela no peito, dizendo querer “Lula lá”. Tinha seu charme.

Naquela época, ser petista era polêmico por outros motivos. Era ser rebelde, era desafiar as regras. E defendia-se Lula com unhas e dentes contra críticas injustificadas:não, ele não roubaria quartos ou carros da classe média…

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E esses militantes criam no que viam. E quando Lula chegou ao poder… Viram as coisas andar, de certa maneira. A economia não degringolou, e a prometida atenção ao social, ainda que tímida, veio. O país teve ganhos? Ótimo.

Para os militantes, porém, tudo foi multiplicado por mil. Lula, de herói, passou a mito. E veio o mensalão.

Deputados petistas, igualmente militantes, choraram no plenário da Câmara. Imagino que milhares tenham feito o mesmo em suas casas, decepcionados. Refeitos do choque, havia dois caminhos.

Um deles era o óbvio: admitir que ninguém é santo, que até nossos heróis da adolescência estavam expostos ao erro. Superar isso e seguir em frente. A isso se chama lucidez.

O outro caminho é o da negação: é o caminho de acreditar que você está sempre certo, e que as pessoas em que você apostou não podem errar nunca. É como o sujeito que nunca acha que seu time jogou pior. Que acha que o juiz é sempre ladrão.

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E é por esse caminho que boa parte dos petistas históricos foi. Nunca houve mensalão, mesmo Lula tendo pedido desculpas. O STF é vil, mesmo sendo formado por ministros indicados pelo PT. E a culpa, claro, é da mídia, sabe-se lá por quê…

Obviamente que é preciso julgar casos semelhantes do DEM e do PSDB. Mas isso não invalida nada do processo atual. Dirceu e sua turma, por tudo que a mais alta corte do país pode ver, cometeram crimes gravíssimos.

Só a mentalidade de Fla-Flu impede alguns de ver isso. Curiosamente, é um discurso semelhante ao dos militares dos anos 70. Quem está contra o governo (ou contra ex-integrantes dele) está contra o Brasil. Irônico fim para José Dirceu.