Agora ninguém mais é contra biografias não autorizadas. Beleza. Até Roberto Carlos, o rei (da censura), que mandou tirar das prateleira um livro sobre ele, até Roberto Carlos, quem diria, virou um defensor da liberdade de expressão. Deu entrevista ao Fantástico sobre o tema e tudo resolvido. Certo? Claro que não.
Há arrependimentos que parecem mais sinceros, como o de Chico Buarque. Em entrevista à Folha, ele foi mais direito. Disse que achava ter uma posição sensata, mas que parece que, afinal de contas, não era bem assim. Se não está totalmente convencido (não caiu do cavalo a caminho de Damasco nem nada), parece estar disposto a aceitar que pode estar errado.
Roberto Carlos, para dizer o mínimo, não parece tão sincero. Em primeiro lugar, porque os atos contrariam suas palavras. Em nenhum momento anunciou que vai tirar a barreira contra livros de que não gosta. Em segundo, acaba de convocar reunião com seus pares do Procure Saber para continuar na defesa da causa. Que causa? A manutenção da lei que dificulta e proíbe a liberdade de expressão. Pois é…
(Aliás, só como curiosidade. Um dos advogados dos artistas do Procure Saber é o homem popularmente conhecido como Kakay. Entre outros, ele defendeu ACM, Sarney, Demóstenes Torres e Daniel Dantas. Se orgulha de ter inocentado cinco maridos assassinos das próprias esposas.)
Se fosse assim, se repentinamente todos fossem a favor da liberdade de expressão, a questão teria acabado. Mas não. O que os artistas querem agora, dissimuladamente (inclusive Caetano Veloso) é transmutar a questão, fazendo parecer que estão apenas se defendendo de um mal entendido causado pela imprensa. Que só querem discutir o assunto, Que não têm uma opinião tão divergente…
Mas insistem que é possível proibir, que a lei não precisa mudar, que a liberdade não pode ser completa, que a ação das editoras contra o Código civil tem problemas. Certamente, ficaram assustados com a reação. Mas nem todos recuaram. a estratégia parece ser agora a de pintar a causa de dourado, mas mantê-la enquanto for possível, dizendo que estão todos em nome de algum bem abstrato que não é percebido pela população.
Convenhamos: o que resiste ainda é o interesse de vetar e censurar. Quando Roberto Carlos liberar o livro sobre ele e Caetano Veloso falar com todas as letras que deixou de querer lutar contra a ação das editoras, aí teremos algo. Por enquanto, continuam todos atrás de Paula Lavigne e sua grosseria sexista em nome da privacidade de uns poucos.