Nem mesmo a destruição do Museu Nacional terá força para que a eleição presidencial discuta a sério os assuntos culturais do país. Primeiro porque, é verdade, o Brasil tem problemas infinitos, e vários deles mais urgentes. Segundo, porque um velho adágio político já diz que cultura não dá voto. E é verdade.
Não dá voto porque a maioria dos eleitores não está nem aí para o tema. O eleitor típico não consegue nem pagar as contas no fim do mês. Se pensa no Estado, é para ter acesso ao SUS ou para saber se a escola pública que atende os filhos tem qualidade mínima.
E nossa elite econômica, que poderia se interessar pelo assunto, é culturalmente analfabeta. Brasileiros ricos quando pensam em fazer turismo lembram antes de fazer compras em Miami do que em conhecer o Metropolitan em Nova York.
Se vão à Europa é para conhecer “a noite” e dar aquela passadinha no Louvre para fotografar a Mona Lisa. E, diz o estereótipo, para citar as cidades visitadas no próximo jantar “fino” a que comparecerem. O mesmo jantar em que se criticará a universidade brasileira e se dirá que o filho da anfitriã está louco por querer estudar música
Brasileiros multimilionários, ao contrário do que acontece no primeiro mundo, não doam dinheiro para museus, não deixam bibliotecas, não financiam universidades. Preferem pôr uma McLaren na sala de estar. Ágrafos, não lideram nenhum projeto cultural relevante no país.
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Se banqueiros investem em livros, em geral é para evitar pagar Imposto de Renda. Se financiam qualquer coisa é só para se aproveitar da Lei Rouanet. Preferem dar dinheiro para caixa dois de deputados, que tem retorno: quadros, livros, dança, tudo isso são privilégios que não conquistaram os corações de nossa elite. Com exceções, é claro.
Fato é que cultura não faz parte de nosso vocabulário cotidiano, muito menos de nossas discussões. Nos últimos tempos, a única discussão cultural que teve algum espaço na nossa sociedade diz respeito a ideologia.
Discutimos infinitamente o sujeito nu no museu. Deputados tentam barrar exposições. As elites religiosas dizem que a cultura está sendo usada como pretexto para minar valores tradicionais. A imprensa discute até não mais poder qualquer exposição que tenha a ver com sexo, ainda que tangencialmente.
A Lei Rouanet é alvo de todo tipo de ataque, como se estivesse fomentando a vida mansa de uns poucos e a vagabundagem, de muitos.
Cultura no Brasil só vira tema de discussão quando se trata de demonizar alguém. Os artistas, em geral; ou aqueles que dizem que cultura deve ser defendida, independente de ideologia; ou, ainda, os políticos de sabe-se lá qual partido que patrocinam essa perdição toda.
A tragédia do Museu Nacional, nesse sentido, é só um sintoma. Se tivermos sorte, vai parar por aí. Mas vai depender de sorte. Porque, se depender de um esforço coletivo de nossa parte, estamos fritos.
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