O Brasil sempre teve muita gente de direita, claro, ou não teríamos tido os governos que tivemos. Mas até recentemente era uma coisa que as pessoas escondiam: sair do armário não era fácil em um país que acabava de sair de uma ditadura.
O governo do PT mudou isso. Se no regime da direitona a moçada estava sempre à esquerda, no governo da companheirada passou a fazer sentido questionar a esquerda. E surgiu a inusitada (no Brasil) figura do rebelde de direita, do questionador liberal, do universitário que acha divertido ser chamado de reaça.
Do ponto de vista da democracia, uma beleza. Seria estranho ver toda a juventude alinhada com o governo. Assim como era estranho ver gerações inteiras pendendo para um só lado da balança. É natural e saudável que haja divergências.
Aí começaram a pulular liberais, libertários e até gente que se assumia como conservadora. Mas os liberais, talvez por causa do MBL, foram os que se multiplicaram mais rapidamente. Críticos do inchaço do Estado petista, querem menos impostos, defendem o capitalismo e odeiam qualquer ideia de socialismo, acham que o mercado se autorregula e que o governo é mais problema do que solução.
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Maravilha. Mas aí começa o problema.
Derrubado o PT, que caminho esse pessoal pode seguir, eleitoralmente? O objetivo em comum (o antipetismo) meio que perdeu o sentido. E começou uma divisão.
Uma parte aderiu de corpo e alma ao governo Temer. São os tucanos que veem no atual presidente um “zumbizão” capaz de fazer as reformas impopulares para entregar ao PSDB um governo mais magrinho. Só que o PSDB, descobriu-se, está tão atolado no lamaçal da corrupção quanto qualquer outro partido. É caciquismo somado a clientelismo.
Temer, bom, viu-se o que é. E mesmo visto como “ponte para o futuro” liberal, parece uma desgraça. Que futuro? Que PSDB? Qual PMDB? Um governo de Cunhas, Aécios e Jucás parece longe de qualquer sonho liberal (se for um sonho sério).
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Há os liberais que passaram a flertar com uma outra opção, muito mais autoritária. Uma mistura de liberalismo econômico com intolerância maciça ao diferente. A versão pau de arara do liberalismo. Claro que estamos falando de Bolsonaro. E, a não ser que você ache Pinochet desculpável pelos resultados econômicos, é evidente que não vale entrar nesse barco.
Uma terceira leva faz um papel mais ingênuo, sonhador. É o pessoal à la Partido Novo. Que, não por acaso, não elegeu ninguém. Um partido político que não gosta de política está fadado ao fracasso desde o primeiro dia.
Ser oposição liberal era mais fácil. Agora, quando há que se propor um candidato, um programa, um modo de governar livre dos defeitos (corretamente, muitas vezes) apontados no petismo, a coisa muda de figura.
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Porque a direita liberal (supondo-se que seja bem intencionada) vai enfrentar os mesmíssimos problemas com que a esquerda (e claro que nela também há gente bem intencionada) se deparou à beira do poder, e depois de chegar a ele.
Como governar em meio a um sistema corrupto, corruptor, em que os partidos têm o monopólio das candidaturas e uns poucos caciques têm o monopólio dos partidos? Como fazer com que Brasília não desvirtue tudo, e que tudo não seja desvirtuado pela Odebrecht, pelo Joesley, pelos 300 picaretas com anel de doutor?
A esquerda, até hoje, não achou a resposta. Talvez porque ela não exista, quem sabe?
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