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A modernização de Temer nos devolveu ao desabastecimento dos anos 80

Michel Temer. (Foto: )

O governo de Michel Temer poderá ser dividido em antes e depois da greve dos caminhoneiros. Até agora, o que se questionava era se Temer era presidente de direito – se tinha legitimidade para o cargo. Daqui para frente, o que se questionará é se é presidente de fato – se preside algo ou se só leva pancada de todos os lados.

Temer não tinha popularidade, nunca teve. Mas tinha o apoio cínico dos liberais reformistas, que viam nele o “zumbizão” capaz de fazer reformas a seu gosto. As reformas não vieram nem virão. As privatizações não aconteceram nem acontecerão.

Exceto por garantir que mulheres grávidas possam trabalhar em lugares insalubres, a pauta da Ponte para o Futuro naufragou. Mas Temer ainda achava que mandava em algo. Nesta semana, descobriu que não manda na Petrobrás, não manda no Congresso e nem nas estradas do país.

Numa semana trágica, o país, que segundo o slogan desvirgulado teria voltado vinte anos em dois, voltou mais dez com o desabastecimento. Quem viveu os tempos de Sarney (outro peemedebista! Outro vice!) sabe o que é entrar na fila cedo para conseguir pão e sair sem nada.

Gasolina, no Brasil de Temer, virou luxo, assim como aposentadoria. A diferença é que as piadinhas que nos anos oitenta se faziam boca a boca agora correm pelo WhatsApp, corroendo o restinho de popularidade que o presidente ainda poderia achar que tem.

Não se trata nem de saber o efeito eleitoral da greve. Para Temer, será nenhum. Jamais foi eleito para um cargo Executivo e jamais será. Só tomou a Presidência fazendo aquilo que faz de melhor: conspirando. Recentemente, Temer disse que seria “covardia” não disputar a reeleição. Típico dos conspiradores, ao se deparar com o eleitor real, se acovardou.

Também não terá efeito para seu candidato, pois Henrique Meirelles não tem chance de nada. Candidato de si mesmo e do “mercado”, vê o país que deveria ajudar a governar ruindo – e se tiver ouvidos atentos ouvirá até um ou outro grito de desculpas a Dilma.

Elio Gaspari conta que Ranieri Mazzili, ao assumir o governo entre a fuga de Jango e a posse de Castelo Branco, dizia nos bastidores que sua impressão era de que não mandava além das quatro paredes do Palácio do Planalto. Não era impressão. Não mandava.

Temer também não manda. E assim permanecerá pelos sete meses e uma semana que restam para que volte definitivamente à obscuridade que tanto fez por merecer.

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