Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:
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Toda e qualquer discussão sobre a ocupação das escolas públicas deveria começar com uma mesma pergunta: a meninada tem ou não tem motivo para protestar? E a resposta é evidente: motivos há, muitos e bons.
O principal é o fato de Michel Temer ter passado por cima de todo mundo e tentado fazer uma reforma na educação na base do decreto. Essa bagunça de fazer tudo por medida provisória uma hora ia dar nisso – ninguém aceita gambiarras antidemocráticas o tempo todo.
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Ah, mas a reforma era da Dilma. E daí? Mas agora o protesto é porque querem tirar o Temer. Não é. É contra a reforma via MP. E isso também não deslegitimaria manifestação de ninguém? Mas os partidos políticos querem usar o pessoal de massa de manobra. Mesmo que fosse: numa democracia, partidos estão aí para fazer política. E se os estudantes acharem que a pauta de um partido é boa, que se há de fazer? Proibi-los?
E se eles não sabem exatamente o que fazem, como dizem? Alguém aí fez pesquisa de opinião pública na Paulista para saber se o pessoal entendeu direitinho o decreto do Plano Safra? Ou a falta de compreensão disso tira a legitimidade do pedido de impeachment de Dilma?
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É claro que o ideal seria protestar sem incomodar a vida de ninguém. Sem atrapalhar as aulas, ainda mais perto do Enem. Ainda mais perto do vestibular. Mas o que as meninas e os meninos estão fazendo é puro exercício de cidadania. Ou, falando no popular: não se faz omelete sem quebrar ovos.
Estivessem segurando cartazes na frente das escolas e alguém lhes daria bola? O tamanho das ocupações no Paraná, com mais de 500 escolas tomadas, mostra o tamanho da indignação. E democracia tem disso: quando as pessoas ficam indignadas elas têm todo o direito de se fazer ouvidas.
Ah, deixando claro. Os estudantes e pais que forem contra a ocupação têm o direito de protestar contra elas. Mas até a Justiça tem decidido a favor da legalidade das ocupações. Muito mais legais e legítimas, aliás, do que governar por MPs.
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O governador Beto Richa depois de entregar as reivindicações dos alunos e da comunidade escolar ao ministro Mendonça Filho disse que não há mais motivo para as ocupações. Bom, isso quem tem que decidir não é ele. Quem decide se protesta e como protesta é a população.
A meninada já conseguiu fazer com que um governador pouco afeito a ceder a pressões (vide o 29 de abril) viajasse a Brasília para falar com sua excelência ministerial. Pode muito bem forçar o governo Temer a admitir que não fez a lição de casa e a recuar.
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É curioso como os sinais se invertem. Tempos atrás, a esquerda fuçava a internet para achar e compartilhar fotos de Kim Kataguiri com gente do PSDB, Cunha etc. Queriam provar que as manifestações contra Dilma tinham interesse partidário. A direita dizia que protestar era legítimo.
Agora, a esquerda defende a legitimidade dos protestos dos alunos. E a direita revira arquivos para encontrar fotos dos dirigentes da Upes com políticos – para provar que o interesse é meramente partidários.
Numa democracia, incoerência não é crime. Mas nem por isso deixa de ser risível.
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