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Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.
Foto: Hugo Harada/Gazeta do Povo.| Foto:

O blogueiro Leandro Narloch escreveu nesta Gazeta um artigo sobre o estupro sofrido pela escritora Clara Averbuck. Disse que ela se interessou mais em fazer do caso um espetáculo do que em ir à polícia, fazer exames etc, o que, segundo ele, poderia levar à prisão do estuprador, preservando outras mulheres.

É evidente que não existe “estupro-espetáculo”; o que existe é falta de empatia. Dizer que o “mais perturbador” em um caso de estupro é o fato de a vítima não prestar queixa é, no mínimo, desrespeito. Quando a crítica vem de um homem chega a ser ofensivo. E não deveria ofender só mulheres, é uma ofensa à inteligência da sociedade como um todo. Ou pelo menos deveria ser.

Não, não é uma meta feminista acabar com os homens do mundo. Se for o argumento que estiver passando pela sua cabeça, faça-se um favor e abandone-o agora. A intenção é mais complexa. É fazer com que todos – vejam só – consigam olhar para um caso de estupro e perceber que o “mais perturbador” na situação é justamente a violência em si e o fato de ela ter ocorrido.

A escritora Clara Averbuck não denunciou à polícia a violência que sofreu; preferiu desabafar nas redes sociais. E ninguém pode julgá-la. Ninguém. Essa deveria ser uma ideia simples de absorver. Somente a vítima sabe a reação que lhe convém. Somente ela vai lidar com as consequências físicas e psicológicas de um ato do qual ela – e isso é o mais importante – não foi culpada.

E vamos repetir e repassar até chegar em quem parece não querer entender: não é culpa da vítima a agressão. Ela também não pode ser responsabilizada pelo que o agressor fará da vida dele.

O caso da mulher vítima de um homem que ejaculou em seu pescoço, dentro do transporte coletivo em São Paulo, mostra o caminho das pedras da justiça. Ela seguiu o procedimento. Fez o processo que Leandro classificou como “chato”: foi à delegacia e denunciou Diego Ferreira de Novais.

Não foi a primeira mulher a denunciá-lo pelo mesmo crime. Outras enfrentaram o mesmo caminho das pedras. E o agressor continua solto. O juiz entendeu que não foi um crime: foi uma contravenção penal e liberou o homem.

Não há caminho virtuoso, nem heróis em casos assim. Perdemos todos. As vítimas são vítimas. Elas lutam como podem para superar. E só podem esperar o melhor das pessoas e das autoridades. E pasmem, isso nem sempre acontece. Elas são julgadas de todas formas.

Se denunciam podem sofrer outra violência ao fazê-lo. Se não denunciam são tidas como as responsáveis pelos atos futuros do agressor. Como se coubesse a ela a prerrogativa de evitar que outra mulher seja violentada. É uma forma desleal e cruel de culpar a vítima.

Colaborou: Camila Abrão.

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