Algumas coisas boas vieram da discussão em torno da vinda dos médicos cubanos para o Brasil. Uma delas foi o fato de a própria presidente da República, para justificar a contratação em massa, ter de admitir em rede nacional de rádio e tevê que os serviços que o governo presta são ruins. Dilma Rousseff disse isso com todas as letras no pronunciamento de Sete de Setembro. E não é pouca coisa;
Agora, uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional dos Transportes (CNT) confirma que a opinião não é só de Dilma: apenas 20,4% dos brasileiros consideram os serviços de saúde do governo ótimos ou bons. Enquanto isso, 41,5% afirmam que o atendimento no SUS é ruim ou péssimo. Igualmente, não é pouca coisa.
Os fatos são esses. O PSDB governou o país por oito anos, com direito a imposto exclusivo (ou deveria ser) para a saúde, e o atendimento continuou ruim. O PT está no poder há dez anos e o atendimento continua ruim. A autoacusação entre as partes é bobagem. Nenhum governo fez o que devia, mesmo tendo tempo de sobra para isso. Mesmo tendo dinheiro, com a nossa enorme carga tributária. O que não houve foi vontade política.
Agora, pressionada pelas ruas e às vésperas de uma eleição sem ter criado um “fato marquetável”, Dilma apela para os cubanos. Como se fosse um “deus ex-machina”. Como se a demanda por médicos não fosse previsível lá atrás, quando Lula assumiu o poder, ou quando ela assumiu a Casa Civil.
Dilma, pelo menos, agora precisou ser clara com o eleitor. Admitiu que os governos não dão conta nem mesmo de oferecer o básico para a população. Nem o dela, nem o de seus antecessores. O PT não tem mais como colocar a culpa na herança maldita, já que é sucessor de si mesmo pela segunda vez. E escolheu criticar “as elites”, no caso representadas pelos médicos, pelos problemas nacionais.
Pelo menos, ainda que por linhas bastante tortas, as medidas estão sendo tomadas. Especialmente as de longo prazo, que são as mais importantes. Mais faculdades, mais gente se formando, tirando poder da oligarquia dos médicos.