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A tietagem do “japonês da federal” mostra o estado da nossa política

Newton Ishii tietado no Congresso. Foto: Alan Marques/Folhapress. (Foto: )
Newton Ishii tietado no Congresso. Foto: Alan Marques/Folhapress.

Newton Ishii tietado no Congresso. Foto: Alan Marques/Folhapress.

No julgamento do mensalão houve toda um movimento de canonização do então presidente do STF Joaquim Barbosa. Isso enquanto o PT e adeptos do partido, claro, demonizavam o mesmo ministro. Fenômeno semelhante acontece agora com Sergio Moro: assim como no caso de Barbosa, encontram-se até os que defendem em manifestações públicas a sua candidatura para a Presidência da República.

Outro fenômeno da Lava Jato parecido, mas mais curioso, é o de Newton Ishii, o popular “japonês da federal”. Primeiro, alguém percebeu que ele estava sempre nas fotos de prisões de acusados. Virou piada. Depois, virou marchinha de carnaval e a máscara mais popular de 2016. Pelo menos um partido chegou a convidá-lo para ser candidato a vereador, embora Ishii descarte a possibilidade, pelo menos por enquanto.

Na semana que passou, o agente da PF, de férias, esteve em Brasília. E foi tietado não por populares, mas pelo congressistas. Tirou fotos abraçado com políticos, fez selfies, deu entrevistas. Perguntaram-lhe por que de estar sempre de óculos escuros, falou sobre seus projetos. É a celebridade do momento, ou pelo menos uma delas. E aí talvez seja a hora de fazer uma pergunta simples: por que mesmo?

Para a marchinha e a máscara, a explicação é simples: brasileiro gosta mesmo de brincar com notícias do cotidiano, faz piada com tudo. Por que não a Lava Jato? A suposta candidatura e a tietagem de políticos passa para outro nível.

Claro: como toda celebridade (!), Ishii chama a atenção. E os políticos podem estar querendo dizer, ao abraçá-lo, que nada têm a ver com a Lava Jato. O deputado Hussei Bakri (PSC), por exemplo, fez como legenda para sua selfie com Ishii um texto dizendo que outros temem a visita do japonês da PF, mas não ele. Posar ao lado de um agente da PF seria um atestado de idoneidade.

A candidatura parte de um pressuposto ainda mais curioso. Alguém aí sabe o que defende o possível candidato Ishii? Quais são suas plataformas, a sua ideologia, se prefere o Estado mínimo ou é um intervencionista? Os partidos parecem não estar nem aí para isso. Querem rostos conhecidos e, de preferência, dizer que estão associados ao combate à corrupção. (O Solidariedade, que convidou Ishii, é o partido de Luiz Argôlo, que está neste momento em uma cela da Lava Jato.)

Mais estranho: o que fez Ishii para merecer isso? Fez o seu trabalho. Acompanhou pessoas com prisão decretada. Mais nada. Nenhum ato heroico. Sequer algo que se possa chamar de ação ética, a não ser pelo fato de que cumpriu o trabalho pelo qual é pago. Fica parecendo que bater cartão e cumprir com sua obrigação é o suficiente par tornar alguém herói – ou bom político.

O fato de termos presos ricos e poderosos pela primeira vez no país parece gerar um deslumbramento. Quem quer que tenha posto um dedo sequer nesse pessoal, para ajudá-los a chegar à cela deve ser santificado. Ishii, por exemplo, chegou a ser aposentado da PF por denúncias. Depois, acabou inocentado. O filho de Cerveró chegou a ser gravado dizendo que suspeitava que ele vendia informações (depois pediu desculpas).

Continuamos acreditando em salvadores da pátria e criando dependência desse personalismo. Deveríamos era dizer que o que fazem juízes, promotores e agentes da PF nessa história toda é algo que sempre devia ter acontecido. Devia ser trivial. Preferimos politizar tudo e achar que são anjos ou demônios.

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