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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

Hoje é dia de ser grato a alguns sujeitos que passaram por essa terra cem anos antes de nós e que nos deixaram um legado: a Universidade Federal do Paraná. Desde 1912, além dos próprios Victor Ferreira do Amaral e Nilo Cairo, passaram por lá grandes personagens da cidade e do país. Só para ficar com alguns nomes insuspeitos, citem-se Newton Freire-Maia, Glacy Zancan, Mansur Guérios e Newton da Costa. Mas há milhares.

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A universidade local foi um fator de desenvolvimento para a cidade. A começar pela geografia. Dizem que quando foi construído (sem que os donos tivessem dinheiro para assentar um tijolo, na verdade), o prédio da Santos Andrade ficava de costas para Curitiba. O terreno da praça, do Guaíra, só servia para que se jogasse lixo. A universidade parecia prever que a cidade estava destinada a crescer ao seu redor.

Foi instrumento do desenvolvimento político, também, e desde o começo. Em 1912, o Brasil vivia a República Velha: um período aristocrático em que as elites se revezavam no poder sem prestar muita atenção aos males do país. A oligarquia rural estava acostumada a um mundo de coronelismos e cabrestos. A primeira universidade do Brasil era um sintoma de que algo estava mudando. Não é de espantar que o governo de Epitácio Pessoa tenha mandado fechar a universidade em 1920, só reabrindo com o mesmo título em 1946 (já numa democracia um pouco mais aberta).

Desde o seu início, a universidade era, em si mesma, um símbolo de um país que se urbanizava, se letrava e que logo não aceitaria mais que a luta por reconhecimento das classes sociais mais baixas fosse tratada como caso de polícia. Pense: no mesmo 1912, o governo de Venceslau Braz tratava o Contestado na base da pancada. No Rio, oito anos antes, a Revolta da Vacina ocorria porque o governo de Rodrigues Alves queria tirar os pobres da área central do Rio. Em 1917, a greve geral foi debelada na força. A universidade mostrava o surgimento de uma classe média que logo ajudaria a mudar essa situação.

Houve outros momentos simbólicos, como aquele 1968 em que os estudantes, revoltados com a ditadura e com a opressão imposta ao país, fizeram da Reitoria o espaço para o seu protesto. A estátua do reitor identificado com o regime pagou o preço: alunos e professores, mais uma vez, estavam mostrando que uma cidade com universidade não aceita ser jogada para baixo assim tão facilmente.

De uma década para cá, a UFPR também virou ponta de lança em outras disputas sociais e políticas, como a inclusão de cotistas. Pense-se o que se quiser das cotas, mas o fato é que a discussão sobre pobreza e riqueza, sobre o racismo e sobre a influência da etnia no destino do cidadão passaram a ser discutidos: e não há dúvida de que é exatamente esse o papel de uma instituição de ensino: fazer com que todos pensem sobre o mundo em que vivem.

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Não sei se é impossível pensar Curitiba sem a UFPR. Mas certamente é indesejável. Toda cidade deveria ter um ambiente livre de discussão como esse, destinado a formar gerações e a botar seus habitantes em contato com o que se pensa no mundo todo. A Universidade Federal do Paraná é o pedaço melhor de Curitiba. É nosso símbolo, nosso passado e boa parte do nosso futuro. Que continue a nos guiar pelos bons caminhos da inteligência.

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