Roberto Acioli (PV) deve ter notícias nos próximos dias sobre seu futuro judicial, conforma mostrou a coluna Caixa Zero nesta semana. O deputado, como se sabe, é acusado de homicídio. Em 1999, ele deu um tiro na cabeça de Paulo Heider, que acabou morrendo. O deputado alega que o tiro foi disparado sem querer.
A Justiça já ouviu Acioli oficialmente sobre o assunto, e o depoimento dele está disponível para quem quiser ler no site do Tribunal de Justiça, em www.tjpr.jus.br. Basta clicar em “Consulta Processual” e digitar o número do processo (771913-1).
Cláudio Dalledone, advogado de Acioli, diz que o fato de o julgamento do deputado estar próximo é uma boa notícia para o político, já que ele poderá provar a “legitimidade de seus atos”.
A seguir, o blog reproduz o início do depoimento, dado em junho de 2013, quando o juiz pergunta sobre os fatos básicos da noite dos fatos.
Eis a legenda para explicar quem está falando a cada momento:
M – Magistrado.
R – Réu.
D – Defensor.
P – Promotor de Justiça.
? – Promotor de Justiça ou Defensor (Não especificado pelo Magistrado, na ocasião de fazer perguntas).
“M – Consta aqui uma denúncia que eu vou ler aqui o que diz. Em data de 1° de Dezembro de 1999, por volta das 01:45 o denunciado José Roberto dos Santos, suspeitando que a vítima Paulo Cesar Heider seria um dos responsáveis pelo assalto a loja de sua esposa, ou seja, por motivo torpe, passou a seguir o táxi o qual encontrava-se a vítima, vindo a abordá-lo nas proximidades da Rua Castro Alves esquina com Avenida Iguaçu, nessa cidade Comarca. Ocasião que fazendo uso de uma arma de fogo, apreendida às folhas 18, desferiu tiros contra Paulo Cesar Heider causando-lhe ferimentos descritos no laudo cadavérico, em que foram causa da morte da vítima conforme Certidão de Óbito. O que o senhor tem a dizer sobre isso, José Roberto?
R – Excelência, o que eu tenho a dizer é que na época nós havíamos ganhado uma licitação da Brasil Telecom e eu vendi um carro e montei uma loja de vendas de aparelho celular, e eu não me lembro exatamente a data exata, mas algum tempo depois ela foi assaltada, 03:00 da tarde, onde abusaram de funcionários, na época da minha ex-esposa, mãe dos meus filhos. Passando a mão nos funcionários, enfim, assaltaram e levaram vários, alguns aparelhos, não muitos. E 15 dias depois os mesmo indivíduos voltaram e arrombaram essa loja, quebraram todo o sistema de alarme, fax no chão, computador, defecaram no meio da loja e com pedaço de jornal escreveram na parede “otário”, enfim, um monte de coisa. E fugiram. E nessa época a gente fez, prestei queixa no 1° Distrito com o Doutor Stélio Machado na época. Aí fiquei sabendo que eles haviam localizado e prendido um dos suspeitos e teriam recuperado um ou dois aparelhos e tal, mas não me devolveram, enfim, e ficou. Mas ainda na época recebi informação que eles estavam investigando e deveriam localizar e prender os dois, já sabia quem era, assim como eu já tinha informação também. Até porque esses aparelhos começaram a ser vendidos na região da Praça Tiradentes, todas aquelas imediações. Aí um dia eu estava no posto, passei abastecendo, havia saído da emissora de rádio que eu trabalhava na época, e recebi informação de um rapaz que vendia espetinho atrás da Catedral, ali na Nestor de Castro, dizendo que os dois indivíduos estavam dentro de um táxi e que possivelmente assaltaria esse táxi. Aí foi quando eu liguei para a central alternativa da rádio táxi alternativa, me informaram que era o táxi 208, e eu pedi, falei assim: “Olha…”, pedi não, eu avisei a central, a operadora para que avisasse, para que ficassem em alertas com os dois indivíduos, e que eu gostaria de conversar com os dois indivíduos. Ali na Rua Vinte Quatro Horas, a partir dali o táxi subiu a Avenida Iguaçu, e na Castro Alves, entrou a esquerda e parou. Aí chegando lá no local eu desci e fui conversar com este rapaz, o Paulinho.
M – Só um tinha?
R – Tinha dois, um estava com o motorista na parte da frente e esse Paulinho estava no banco de trás. Aí quando eu desci, já me viram e sabia do que se tratava. Eu fiz muita questão, Excelência, de sair do meu carro, dar a volta, para que ele me visse de frente, para que não houvesse, para que eu também não fosse surpreendido. Porque afinal de contas tratava-se de dois indivíduos conhecidos da polícia e que praticavam pequenos furtos e assaltos na região central de Curitiba. Aí quando eu pedi para que ele saísse do carro, falei: “Ó, saia do carro que eu quero conversar com você, quero saber do material, dos aparelhos que você roubou.”. E quando ele desceu do carro, ele veio para cima de mim. Quando ele veio para cima de mim, eu apontei a arma para ele, disse: “Olha, eu estou armado, para aí que eu não quero confusão.”. E o outro indivíduo do lado, meu cinegrafista Humberto Guimarães estava comigo. E nesse momento ele veio novamente para cima de mim, foi quando eu engatilhei para tentar fazer com que ele parasse, porque naquele momento, Excelência, ou eu morria ou eu morria. Aí esse rapaz eu pedi para que ele encostasse na caminhonete e pedi para o meu cinegrafista chamar a polícia, disse: “Olha, por favor, chama a polícia, liga para o 1° Distrito, que nos localizamos para que eles venham busca-los.”. E esse rapaz, ele sempre de alguma forma, eu percebi que ele estava muito nervoso e que ele não queria falar, e cada vez que eu falava dos aparelhos, falava em polícia, ele se alterava. Momento que ele ficou encostado, eu pedia para que ele encostasse na caminhonete e ele ficou encostado, e eu estava perto dele, e ele a todo momento vendo uma forma… E não tinha mais como guardar a arma naquele momento. Foi quando eu recebi uma cotovelada no estômago e a arma disparou, um revólver calibre 38. Aí Excelência, o senhor vai me perguntar: “Como é que um 38 dispara?”. Eu explico. Eu nunca ate então tinha usado uma arma de fogo. E na época era legal, era registrado, eu tinha registro e porte da arma. E adquiri essa arma nova porque eu trabalhava durante a noite, eu trabalhava das 06:00 da tarde às 06:00 da manhã fazendo matérias policiais, na época eu era repórter do Deputado Alborghetti, tinha um programa cadeia, e a gente lá entrava em locais perigosos e tal, e fomos ameaçados muitas vezes. E até comprei… Por imperícia minha, eu nunca busquei treinar, o primeiro que eu dei na minha vida, essa que é a verdade. Dei não, um disparo acidental.
M – Um só?
R – É, um só. O quê que aconteceu, quando eu engatilhei a arma, Excelência, eu continuei com o dedo no cão da arma, ali durante esse tempo. Foi quando no momento que ele me deu a cotovelada e houve a questão do disparo. Aí com um toque ali de repente sensível né, depois disso tudo que eu fui ver, tanto é que eu nunca mais possuí arma por consequência disso. E aí esse rapaz, eu até achei que o tiro teria saído para cima, porque quando ele me deu a cotovelada eu estava com a arma assim, achei até que o tiro tinha saído para cima. Quando eu vi começou sair sangue do… Porque ele me deu a cotovelada e fez exatamente isso no momento do disparo.
M – Ele não estava armado?
R – Eu não sabia, eu não tinha essa informação. Eu achava que estava, porque eles praticavam roubos e assaltos na região central, então eu não tinha certeza se estavam ou não armados. Eu ainda quando encostei na caminhonete, a intenção era exatamente ver se eles estavam armados. Mas não deu tempo por conta dessa cotovelada. Enfim, ele me deu a cotovelada, houve o disparo, eu achei que não havia acertado esse rapaz, mas aí eu vi que ele amoleceu e caiu entre o meio fio e a minha caminhonete. Aí bateu um desespero, porque diferente de você fazer uma matéria em um local de morte e você ser envolvido. Aí realmente me deu um branco, fiquei desesperado, tentei pegar ele e colocar na caminhonete para socorrer, não consegui. E daí eu chamei o Siate, nós chamamos o Siate, eu pedi para que o meu cinegrafista que ficasse do local, e saí do local, fui embora.
M – Certo.
R – No outro dia pela manhã fui na Delegacia de Homicídios, entreguei minha arma, entreguei tudo, e fui ser ouvido.”
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