A indicação de Alexandre de Moraes para o Supremo Tribunal Federal é muito mais grave do que um simples”aparelhamento” do Judiciário. Em outra ocasião, o grave seria o fato de o ministro ser ligado a um partido, de ser ministro da República até o dia de sua indicação – e mesmo depois.
Mas agora a situação é completamente diferente. Temer não está escolhendo “um novo ministro” do STF. Está escolhendo quem é que irá julgá-lo – Temer foi citado 43 vezes só em uma delação da Odebrecht. Está decidindo quem irá estar no STF durante a análise dos inquéritos de todos os deputados e senadores que lhe deram a Presidência da República.
Alexandre de Moraes, caso chegue mesmo ao Supremo, terá 27 anos de cargo pela frente. Mas será nos primeiros que poderá demonstrar sua lealdade para quem lhe tirou de um cargo de primeiro escalão estadual para um posto vitalício na mais alta Corte do país.
Nos primeiros anos, ele julgará todos os réus da Lava Jato com foro privilegiado. Hoje, há inquéritos e citações, por exemplo, contra o presidente do Senado, o ex-presidente do Senado e o líder do governo Temer no Senado. Todos os três serão importantíssimos em sua sabatina e sua nomeação.
Não há chance de ele não ser confirmado no cargo. Para os réus, especialmente para os réus ligados ao Temer e ao PSDB, sua ida ao Supremo é um bálsamo. Para todos os que se puseram contra o PT, é a garantia de ter alguém com a mesma visão política e com lealdade aos antigos companheiros.
E quem garante que essa lealdade existe é o próprio Alexandre de Moraes: foi exatamente esse o argumento dele, em 2000, na tua tese de doutoramento, para dizer que alguém como ele não podia ir ao STF – não haveria como apagar a lealdade ao presidente que nomeasse seu ministro.
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