André Vargas não deve ter acesso ao Google. Tivesse, poderia digitar o nome de Alberto Youssef e ver o que acontece. Nos primeiros resultados, ficaria sabendo de possíveis ligações do doleiro com esquemas como o mensalão, de acusações de lavagem de dinheiro e de sentenças contra ele em função de evasão de divisas. Só para começar.
Como não vê o Google, Vargas ficou amigo de Youssef. Quer dizer, segundo ele não é bem amigo. Trata-se de um conhecido corriqueiro. Mas aí talvez fosse o caso de ver se o deputado tem acesso a um dicionário. Veria que a diferença entre “conhecidos corriqueiros” e “amigos” está no grau de ligação entre as partes, de afeição. Os dois podem não ter afeição um pelo outro. Mas a ligação de quem empresta um jato para o outro não é de “conhecido corriqueiro”. A mim, pelo menos, nenhum conhecido corriqueiro ofereceu jatinhos para que eu escolhesse destinos de férias com a família.
André Vargas também é um homem de poucos contatos. Fosse uma pessoa mais bem relacionada, poderia facilmente descobrir de quem era o avião que estava tomando emprestado para viajar com a família. Diz ele, no entanto, que não sabia. Apesar de Youssef ser seu amigo (opa! conhecido, claro), e de os dois terem trocado mensagens chamando-se de irmãos e de terem combinado o empréstimo da aeronave, o deputado não sabia que o avião era de Youssef.
A assessoria do deputado diz que emitirá uma nota em breve explicando mais sobre o assunto. Dada a clareza dos esclarecimentos já prestados pelo deputado até o momento e sua verossimilhança, é o caso de ficar atento para ver qual será a próxima explicação.
Em todo caso, vai ficando cada vez mais claro porque o deputado resolveu cerrar a mão e levantá-la, imitando Genoino e Dirceu, quando o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, sentou-se a seu lado na Câmara dos Deputados. Aqui, pelo menos, temos algo que faz sentido.
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