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Antonio Prata, Míriam Leitão e a direita hidrófoba

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O fim de semana teve curiosamente dois textos de colunistas nacionais desancando a raiva de parte (veja bem, parte) da direita contra o governo e algumas políticas públicas. Um foi de Míriam Leitão, dizendo que textos como os de alguns colunistas mais exacerbados emburrecem o debate. Os alvos eram Reinaldo Azevedo e Rodrigo Constantino, ambos blogueiros de Veja.

Ela tenta argumentar que o termo “petralha” é tão prejudicial para o embate de ideias como é “privataria” no caso do governo Fernando Henrique Cardoso, por exemplo. Ela afirma categoricamente que o Brasil está ficando burro em parte por causa de debatedores que usam “ofensas como argumentos”.

O outro texto, muito mais divertido, saiu na Folha. É de Antonio Prata. E faz uma sátira de um discurso que anda em voga, e que é uma mistura do que fala a direita mais liberal com o que fala a direita mais conservadora. O texto é hilário. Em especial na imitação exagerada (é humor, portanto, é exagerado, claro) do maniqueísmo que toma conta do debate.

Um trecho engraçadíssimo, por exemplo, é o que narra o problema da agricultura no Centro-Oeste. Não fosse pela questão indígena, diz ele, o Brasil rural estaria produzindo soja suficiente para fazer tofus do tamanho da Groenlândia. Mas preferiram transformar aquilo em uma “taba” onde os índios ficam “catando piolho e tomando 51”.

O texto de Miriam Leitão causou furor entre os citados, que se defenderam em artigos tão violentos que só fazem reforçar o que ela disse em sua coluna. Espumam e vê-se que, ao mesmo tempo, sentem-se deleitados por estarem incomodando.

O texto de Antonio Prata, por ser irônico, por retratar estereótipos, e não falar de alguém especificamente, não teve o mesmo tipo de reação. Mas curiosamente houve gente que elogiou o colunista por ter sido “corajoso” e denunciar “a rubra súcia” que tomou conta do poder. A ironia foi fina demais para alguns, que viram ali uma verdadeira apologia do que estava sendo criticado.

Certo mesmo é que há uma direita “hidrófoba” como disse Míriam Leitão e que vem ganhando cada vez mais espaço, pelo menos nos jornais e no ativismo de internet. E o fato de alguém ter levado a sério e elogiado um discurso que notadamente era para ser estapafúrdio só reforça a possibilidade de que essa direita esteja mesmo tão exacerbada que chega a considerar sério o que só poderia ser piada.

Há uma esquerda igualmente hidrófoba, e mais: há governistas tão agressivos quanto os que atacam Dilma e a rubra súcia. A diferença parece ser que essa direita, incomodada por não estar emplacando vitórias nas eleições federais, ficou escanteada e está ficando, com isso, cada vez mais furiosa. O que, certamente, não ajuda no debate.

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