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Na tentativa de desqualificar Ricardo Pessoa, a presidente disse, segundo os jornais, que não respeita delatores. E fez duas comparações absurdas: com a situação dela própria, na cadeia, durante a ditadura; e com a história da Inconfidência Mineira.

A primeira frase:

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“Eu não respeito delator. Até porque eu estive presa na ditadura e sei o que é que é. Tentaram me transformar em uma delatora.”

A segunda:

“E há um personagem que a gente não gosta, porque as professoras nos ensinam a não gostar dele. E ele se chama Joaquim Silvério dos Reis, o delator. Eu não respeito delator.”

Na primeira frase, Dilma avacalha com a própria história. Na segunda, com a história do país. Pelo simples motivo de que, nos dois casos citados por ela, as pessoas vítimas da delação estavam enfrentando governos autoritários e tentavam fazer algo que, em última instância, era lícito. Senão pela lei vigente, pelo menos moralmente.

O caso da prisão de Dilma se deu num contexto não-democrático. A ditadura tentou fazê-la delatar os colegas de grupo, é verdade. (Também é verdade que os grupos de que ela participou queriam um governo não-democrático; se tivessem sido bem-sucedidos, teriam de responder por isso, mas como não o foram, apenas combateram uma ditadura, o que é sempre lícito.)

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O caso dos inconfidentes é bem diferente. Queriam separar o Brasil de Portugal, causa que na época podia ser discutível – e do ponto de vista do governo era inaceitável – mas que era lícita e respeitável.

Joaquim Silvério dos Reis não é odiado por delatar um crime. E sim por delatar pessoas que pareciam ter um bom ideal.

O governo de Dilma, e ela própria, estão sob suspeita bem diferente: de cometer crimes em nome do poder. Não se está, nesse caso, combatendo qualquer ditadura, nem tentando libertar um país. Nada louvável, nada lícito estaria sendo obtido com os crimes que estão sendo investigados na Lava-Jato.

Se tudo ficar provado, terá sido um simples caso de crime o que se delatou. Se não houve nada, Dilma e seu governo têm a obrigação de rebater os argumentos, oferecer provas, se defender. Mas não invertendo a história e confundindo combate a governos ilegítimos com financiamento ilícito de campanha.

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