De repente, apareceu um monte de gente querendo apagar a tocha olímpica. Na passagem por várias cidades do Brasil, teve de tudo: de gente com extintor na mão até outros que foram à internet prometer pagamento para quem apagasse a chama. Mais: surgiu até vaquinha para pagar a fiança do “herói” que fizesse o serviço.
Difícil entender o motivo da raiva contra a Olimpíada? Nem tanto. Na Copa do Mundo os protestos foram bem maiores. Na verdade, foram maiores ainda na época da Copa das Confederações, em 2013, quando o Brasil passava pelas “jornadas de junho” e se discutia o tamanho do investimento em estádios.
Foi aí que o pessoal começou a pedir “educação padrão Fifa”, “saúde padrão Fifa”. Por sorte, ninguém fez cartazes pedindo “ética padrão Fifa”. Mas os gastos e as suspeitas (bem embasadas) de superfaturamentos, desvios e chunchos em geral faziam os protestos terem algum sentido, ainda que meramente simbólico. Veio até o slogan do “Não vai ter Copa”. Teve.
No caso da Olimpíada, não se viu ainda nenhuma hashtag prometendo que a Olimpíada vai pro espaço (até agora, só o Estado Islâmico fez alguma ameaça nesse sentido). Mas tem essa história da tocha. Apagar a tocha é um jeito simbólico de dizer que a olimpíada não é bem-vinda. Algo como vai ter olimpíada, #maseuprotestei.
Mas por mais que se possa discutir a conveniência de se fazer uma Olimpíada num país com tantas carências, o fato é que os jogos são bem mais do que um pretexto para fazer estruturas (e, quem sabe, superfaturar preços). A Olimpíada em certo sentido é o símbolo máximo da possível união humana. Talvez mais do que a ONU. Certamente mais do que a Copa do Mundo.
Os jogos amarram a história humana desde a Antiguidade, celebram o ideal de superação de nossos limites e, principalmente, reúnem a humanidade em torno de um objetivo pacífico e admirável – quando na maior parte do tempo temos muito mais desunião do que harmonia.
A Olimpíada está cheia de grandes exemplos de como a humanidade pode ser melhor. Jesse Owens calando Hitler e os nazistas em Berlim. A maratonista suíça terminando a prova apesar do sofrimento de seu corpo. O nadador da Guiné que terminou a prova muito tempo atrás dos outros competidores mas que foi aplaudido no mundo inteiro.
O que colocou os jogos em risco ao longo do tempo foi a intolerância. Dos nazistas em 36. Dos antissemitas em Munique. Dos regimes de Moscou e Washington nos boicotes do fim da guerra fria. Mas a todas essas o espírito do esporte se manteve o mesmo.
Queremos mesmo jogar tudo isso fora? Queremos apagar a chama olímpica? Será que não existe um meio mais inteligente de protestar?
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