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Arruda é a prova de que somos desmemoriados

 

Arruda

Há casos em que a gente prefere errar. Por exemplo, na história de José Roberto Arruda. Quando ele foi preso e perdeu o mandato de governador do Distrito Federal, escrevi uma coluna dizendo que com o tempo as acusações seriam esquecidas, as provas contra ele iriam embora da memória da maioria e ele seria candidato a cargos públicos novamente.

Infelizmente, parece que tudo isso está prestes a se consumar, Arrua deve entrar no PR e há quem diga que ele pode ir mais longe do que eu previ em 2010, disputando o Executivo… É como dizia Ivan Lessa. A cada 15 anos nós esquecemos os 15 anos anteriores. Só que no caso de Arruda, levou bem menos tempo. Nossa memória está ainda pior.

Veja o texto da época, publicado em 13 de fevereiro de 2010, aqui nesta Gazeta:

Saiba como acabará o caso Arruda

Quando um texto publicado na imprensa vai contar o que está para acontecer numa série de tevê ou numa novela, é de bom tom que se avise o leitor sobre isso: se ele não quiser saber, para ter a emoção de descobrir só na hora da transmissão, pule aquela matéria e pronto. É o que os americanos chamam de spoiler alert. Pois então: se você não quer saber o que vai acontecer com o caso Arruda, para sentir a emoção de seguir o noticiário no dia a dia, pode pular essa coluna e passar para o texto de baixo.

1) Nos próximos dias, Arruda vai apanhar como cachorro sarnento. O noticiário não o esquecerá. Os colunistas vão tratá-lo como inimigo número um do país. A população o amaldiçoará. Saia ou não saia da cadeia, renuncie ou não renuncie ao governo, Arruda será um proscrito. Seu antigo partido já finge desde há tempos que nunca ouviu falar dele. Seus ex-secretários jurarão que vão tomar mais cuidado com as companhias a partir de agora.

2) Durante a campanha eleitoral, o caso será lembrado várias vezes. O PT lembrará o escândalo para mostrar quem está do outro lado na disputa. O PSDB e o Democratas (que talvez mude de nome novamente para deixar para trás mais essa mancha em seu currículo, depois de tantas outras), dirá que os petistas também são mensaleiros. A disputa talvez não ocorra no centro do palco, caso os partidos tentem fazer do bom-mocismo uma arma. Nesse caso, deixarão seus aliados menores fazendo o jogo sujo.

3) Os eleitores do Distrito Federal vão às urnas em outubro ainda com o caso Arruda na cabeça – e, mesmo assim, cometerão novamente o erro de eleger Joaquim Roriz. É preciso lembrar: Roriz, que já foi governador por quatro mandatos, foi quem colocou Arruda na política, como seu secretário. Entre outras coisas, foi obrigado a renunciar a um mandato de senador devido a um escândalo bancário. Será um substituto à altura de Arruda e Paulo Octávio.

4) Com o tempo, o caso esfriará. Assim como nos esquecemos do caso do BRB que levou Roriz à renúncia, assim como nos esquecemos de outro governador preso no mandato nos anos 90 (Ronaldo Cunha Lima, na Paraíba), nos esqueceremos, paulatinamente, do escândalo de Arruda. Quem duvida? Afinal, quantos de nós ainda tínhamos em mente, antes do atual escândalo, o problema anterior de Arruda, com o painel do Senado?

5) A longo prazo, Arruda estará livre das acusações. Mais velho, voltará talvez a público para uma nova candidatura. Dirá que não faz isso por ambição, mas sim para limpar seu nome que foi injustamente jogado na lama. Terá de se candidatar por um partido pequeno, talvez. Mas se elegerá deputado federal com facilidade. Os mais jovens serão lembrados nos primeiros dias de mandato de que aquele senhor esteve envolvido em casos sérios de corrupção. Uma tevê mostrará as velhas fitas de um sujeito colocando dinheiro na meia. Mas, em poucos dias, todos se esquecerão.

Posso estar sendo apenas cético. Mas já vimos o filme antes, e quantas vezes. Sabemos, mais ou me­­­nos, adivinhar o final. O que nos restaria, é claro, seria fazermos a nossa parte e evitarmos a parte mais importante dessa tragédia cíclica: a da falta de memória. Ou da falta de cuidado que temos com a nossa memória política. Afinal, sobre Arruda já estávamos avisados. Sobre muitos outros, também. E continuamos votando neles, e os elegendo. Eis a nossa tarefa: dessa vez, podíamos aprender a lição.

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