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Assessor diz que Temer não pede votos para o impeachment, apenas “aconselha”

Rodrigo Rocha Loures é o paranaense mais próximo a Michel Temer. Desde que Temer assumiu a vice de Dilma, está em Brasília , no Palácio do Jaburu. Nos últimos dias, tem acompanhado a romaria de deputados e senadores que procuram Temer já como possível futuro presidente. Em entrevista ao blog, nega que Temer ofereça cargos em troca de votos e diz que já há votos para que Dilma seja impedida na Câmara. Veja a entrevista:

Como tem sido a articulação do vice-presidente neste momento?
Os parlamentares estão buscando o vice-presidente ou colegas do PMDB e procurando o diálogo com um representante do PMDB, o senador Romero Jucá, que é nosso vice-presidente, ou o próprio vice-presidente Michel Temer. É uma atividade normal da vice-presidência. Estou aqui há seis anos e sou testemunha de que as portas da vice-presidência sempre estiveram abertas, inclusive para a oposição. Então ele continua ontem como hoje recebendo dezenas de parlamentares que vão examinar com ele esse momento que é delicado.

O vice pede votos para o impeachment?
Ele não pede votos para os parlamentares porque sabe que o voto é uma decisão individual, partidária e da consciência de cada parlamentar. O que ele faz é examinar do ponto de vista partidário. Portanto, os partidos que estão orientando suas bancadas a favor do impeachment naturalmente têm frequentado em maior número o Palácio do Jaburu.

E o PMDB?
O PMDB no dia 29 de março foi o segundo partido da base a deixar o governo. O primeiro foi o PRB. O PMDB amanhã [hoje] faz uma treunioãio de sua bancada e deve tomar posição sobre a orientação da bancada. Sabemos que a maior parte é favorável ao impeachment. Portanto é provável que o partido feche questão pelo impedimento da presidente Dilma.

Vai haver fechamento de questão?
É possível. em seguida à reunião da bancada, haverá uma reunião da executiva do PMDB para fechar questão e deve confirmar a decisão da bancada. Somos 67 deputados federais, provavelmente 62 desejem o impeachment. Com isso, em sequência, a executiva nacional fechará questão. E com isso todos os deputados do partido ficarão estimulados a votar nessa direção. Mas cada um vota com sua consciência.

O Temer participa dessa reunião?
Não participa. O presidente fica até uma parte da manhã em Brasília, deve ir a São Paulo por volta do meio-dia. Não vai acompanhar a votação em Brasília, deve acompanhar em São Paulo com a família, só deve voltar a Brasília na próxima semana.

E quem fará essa articulação na ausência dele?
Eu pessoalmente devo ficar em Brasília, com o presidente Jucá.

E será necessário fazer trabalho de convencimento ainda no fim de semana?
Não, o presidente Jucá talvez, se for o caso. Eu acredito que ele não o fará, porque não haverá necessidade. Eu ficarei aqui disponível se for o caso para alguma necessidade, que também acho que não haverá. Porque há uma convicção muito grande da bancada em relação a essa votação. No Paraná, por exemplo, ainda há três indecisos, mas com esse fechamento de questão talvez isso mude.

O vice-presidente trabalha pelo impeachment?
Eu diria que ele estava em São Paulo praticamente no último mês observando os eventos. Guardava uma posição de respeito constitucional. Mas nos últimos dez dias passou a ser agredido no plano pessoal e político. Passou a ser visto como alguém que conspirava, tramava, que agia fora da Constituição. Justamente por ser doutor em direito constitucional, viu as agressões feitas pelo PT, pelo governo, pela própria presidente Dilma, ele decidiu que era necessário vir a Brasília até para apresentar a sua versão. E foi por isso que pediu ao presidente Jucá que assumisse o PMDB. Porque ele disse que não gostaria de entrar num debate menor, que está sendo feita numa linguagem rasteira. E foi por isso que na semana passada o senador Jucá assume o PMDB e declara da tribuna do Senado que a partir dali não se permitiria mais esse tipo de declaração sobre conspiração. E isso explica porque desde essa semana ele está aqui, para dialogar com os parlamentares. Até porque dando-se ou não a aprovação do impeachment, ele tem 75 anos, tem uma biografia, é um líder querido, e ele se sentiu ofendido na sua condição de líder político. Na realidade o que eu tenho percebido ao lado dele é que dezenas de parlamentares vêm prestar solidariedade a ele. Ontem já foi mais intenso do ponto de vista do apoiamento. “Olha, presidente, nós vamos lhe apoiar.” Então o que estou observando é um movimento de apoiamento crescente. O próprio governo transformou o vice-presidente num adversário. Mas até pela característica dele de dialogar, de ser paciente, apenas se coloca à disposição para que esse diálogo com os parlamentares fosse próximo.

Mas o vice-presidente é favorável ao impeachment?
Ele não tem voto no Congresso. A opinião dele ele não declarou em lugar algum porque não é relevante. Porque ele não tem voto no processo. Ele pode ter influência mas não tem voto. Assim como nós podemos comentar uma decisão de um ministro do STF. Podemos ter uma opinião, mas que não é relevante no processo porque não votamos no tribunal. Isso escapa à condição dele de vice-presidente. Não cabe ao vice-presidente ter opinião sobre isso porque isso não está previsto na Constituição.

O deputado Aliel Machado (Rede-PR) afirma que foi procurado pelo “pessoal do Temer” que teria perguntado “o que ele queria” para votar pelo impeachment. Esse tipo de abordagem existe?
Eu não sei a quem ele se refere quando diz “pessoal do Temer”. Eu não o procurei. É preciso que ele esclareça quem são essas pessoas sob pena de estar mentindo. Talvez ele tenha sido abordado por algum colega deputado, como é muito natural. Um parlamentar por ter dito: “Você não quer ir falar com a Dilma, com o Temer?” Mas ninguém tem procuração para falar pelo vice-presidente.

Mas essa pergunta tem sido feita aos deputados, isso existe?
Não existe. Acredito que essa consideração dele é desprovida de verdade. A menos que ele revele quem são essas pessoas. Porque nós sabemos que a única pessoa que fala em nome do Temer é ele mesmo.

O “vazamento” do discurso em áudio do vice-presidente prejudicou-o? O sr. estava presente à gravação?
Eu não estava presente. Acredito que isso interessantemente ajudou a população a conhecê-lo melhor, a compreender a sua maneira de pensar. Revelou alguém que tem uma visão para o país numa estrutura concatenada de ideias com relação ao momento em que vivemos.

Mas não pareceu que ele quis tomar posse antes da hora?
Não. Evidentemente que foi um equívoco a transmissão. Criou-se um grupo de WhatsApp, no qual ele foi incluído, e sem querer acabou enviando o áudio. Mas eu sinceramente acho que não havia nessa manifestação nada que não pudesse ser dito e ouvido em qualquer ambiente e que em muitas situações mereceu aplausos. Revelou uma pessoa equilibrada, sensata. E falou na intimidade. Imagine se tivesse se apresentado mal… Mas desde as palavras, da gramática, foi algo em tom elevado. Não há ali nada que desabone a fala do vice-presidente.E pelo inusitado gerou uma visibilidade que, por incrível que pareça, ajudou a construir uma ideia de quem é o vice-presidente.

Fala-se de uma jogada em dupla do Temer com o Eduardo Cunha. Caso fosse aprovado o impeachment, Cunha se livraria das acusações e da cassação. Como o sr. responde a isso?
O vice-presidente Temer, advogado, professor de direito, tem compromisso com as instituições, e inclusive é apoiador da Lava Jato. Porque muitos falavam coisas desse tipo, que caso substitua eventualmente a presidente Dilma, ele de alguma maneira interferiria nas investigações. Pelo contrário, vai apoiá-las, e vai fazer toda e qualquer  ação em defesa do cumprimento da lei e do combate e à corrupção. Com relação ao presidente Cunha, cabe a ele e a seus advogados responder às investigações que sobre ele correm. Não há nenhuma vinculaação entre os dois papéis.

Mas o Cunha realmente recorreu para não ter de julgar o impeachment do Temer.
Enquanto presidente da Câmara ele tem essa faculdade de recorrer. E não é ele fisicamente que recorrer. Tem uma equipe jurídica que faz automaticamente. Tem um time lá que instintivamente, funcionalmente recebe demandas e responde. Evidente que em alguns casos é o presidente que assina. O que eu soube foi que isso foi entendido como uma tentativa de adiar o processo de impeachment. E a decisão política que houve lá foi justamente para permitir que o rito da votação não fosse interrompido. Então eu sinceramente compreendo essa possível interpretação, mas o que me parece foi que o que aconteceu foi uma tentativa de proteger o processo de impeachment. Até porque o Congresso está paralisado e é necessário fazer essa votação, independente do resultado. Até para que a gente possa tratar de outras coisas. Economia, por exemplo.

Para encerrar, qual sua aposta para o placar no domingo?
O que eu posso dizer é que a informação é que já temos número para o impeachment, segundo as informações que me chegaram até duas ou três da tarde de hoje [ontem]. Já temos mais do que os 342 votos para o impeachment, segundo o que nos informam os mais variados líderes políticos e partidários.

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