Ao colocar os presos do Paraná em “celas modulares”, o governador Beto Richa está dando prosseguimento a uma gambiarra que chegou a nossas terras em princípios do glorioso século 21. Na época, a existência de um “contêiner com gente dentro” ainda era motivo de escândalo. Bons tempos.
Quem começou com o improviso foi Fazenda Rio Grande, na época em que o prefeito era Toninho da AW – que hoje, deputado federal, adotou o nome de Toninho Wandscheer. A delegacia local não tinha como abrigar mais os detentos e – Eureka! – achou-se a solução.
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Repórteres de todo lado foram à cidade ver o que era aquilo. Tratava-se de um contêiner de verdade, desses que se põe em navios para transportar soja. Só que em vez de soja, ali havia humanos a granel. Apesar de todos os protestos, o prefeito disse que se tratava de um belo quebra-galho. E a população parece ter gostado, pois não para de lhe dar mandatos.
Contêiner chique
A gambiarra municipal foi promovida a gambiarra estadual pelo governador Roberto Requião. Em 2009, Requião inventou de colocar “celas modulares” em Piraquara para aumentar a capacidade do presídio. Não eram mais contêineres cortados. Eram, digamos, contêineres sob medida. Coisa fina, que transformou o improviso da gambiarra moleque em uma arte de enfiar gente em casulos de concreto.
O secretário de Segurança, Luiz Fernando Delazari, admitia que o ideal era pôr os presos nas penitenciárias. Evidente. O plano B é chamado assim justamente porque não é tão bom quanto o plano A.
Mesmo assim, o governo se gabava de que estava acabando com a superlotação. Uma balela prometida a quatro anos sem muito efeito prático nos últimos vinte, pelo menos.
Perpetuação do improviso
Agora, o que começou com um contêiner e depois virou improviso com aval do Palácio Iguaçu se transforma no verdadeiro estado da arte da política de segurança. Richa, que prometeu em um ano tirar os presos das delegacias, deixou tudo virar um caos. E agora pretende resolver tudo com um caminhão de “celas modulares”.
Tanto faz se os fiscais de direitos humanos dizem que a solução não é solução – que desrespeita direitos de todo tipo e é contra a lei. A gambiarra venceu.
E assim vai o Paraná, como a casa da gente, em que um improviso que devia durar uns dias às vezes fica lá por anos. Só que, no caso, isso tem um preço em vidas humanas – e em dinheiro públicos.
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