Beto Richa decidiu fazer de seu segundo mandato uma longa guerra contra os professores. Em nome do ajuste fiscal, para consertar o estado que havia quebrado, foi aos poucos minando direitos e benefícios do funcionalismo. E a educação representa mais ou menos metade dos servidores.
Três anos e pouco depois, dá para dizer que Beto ganhou quase todas as batalhas. Fez a reforma da previdência, diminuiu a hora-atividade, congelou os salários e nem sequer está repondo a inflação. Na última vitória, conseguiu diminuir o salário dos professores temporários – e, mesmo assim, receber 92 mil inscrições de interessados nas vagas.
As batalhas judiciais vieram acompanhadas de declarações cada vez mais fortes de Beto, que passou a insinuar que parte da categoria é de meros ativistas políticos. Beto também comprou brigas ideológicas, apoiando mudanças no plano de educação aprovado na Assembleia e apoiando o Escola sem Partido.
Na última declaração, no cúmulo da arrogância, quando os sindicatos e os professores se queixaram do salário ainda mais baixo oferecido aos temporários, Beto afirmou que quem não quisesse simplesmente não precisava se inscrever. Se impôs pela força e, mais uma vez, ganhou.
Vitória de Pirro
Mas esse é o tipo da vitória inglória. O governador vai encerrar o mandato com as contas em dia e, ao que parece, podendo anunciar um viaduto aqui e outro ali. Em certo sentido, ganha discurso, ainda mais se comparado a governos trágicos como o do Rio de Janeiro e o do Rio Grande do Sul.
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Porém, pense bem: a que custo foram obtidas essas vitórias? Foram vitórias, em última instância, contra a educação.
Numa das mais desastradas frases de sua carreira, o governador disse que não queria policiais muito instruídos na corporação, porque eles tendiam a ser mais desobedientes. Acabou pedindo desculpas. Mas será que não pensa mesmo assim? Que gente instruída só atrapalha?
Porque, no fim das contas, não existe como você afetar os professores sem afetar o ensino. Mesmo parecendo que está tudo bem, mesmo havendo 92 mil inscrições, é lógico que o tipo de política que vem sendo adotada pelo governo, no médio e no longo prazos, afasta do ensino público os melhores profissionais.
É um truísmo a essa altura afirmar que todo país que saiu de condições econômicas e sociais ruins investiu pesado na educação. Aqui, o governo decidiu fazer exatamente o contrário: no momento da necessidade, foi da educação que cortou a verba, para salvar o resto.
Richa preferiu viadutos a salas de aula, obras físicas à educação. E isso tem seu preço.
E os alunos?
A geração de alunos que hoje está nas escolas públicas tende a ter professores cada vez mais mal pagos, sem reposição da inflação, que correm de uma escola para outra para aumentar o salário e que precisam se dividir entre a sala de aula e outras atividades para complementar a renda.
Quando era prefeito de Curitiba, Beto sempre se orgulhou de ficar em primeiro lugar no Ideb. No governo, viu o Paraná desabar no índice e não sabia explicar o porquê de isso ter acontecido. A tendência é de que as coisas piores. E fica claro, a essa altura, de quem é a culpa.
O que resta discutir agora é se tudo isso, no fim das contas, é uma grande coincidência ou um projeto.
Numa das mais desastradas frases de sua carreira, o governador disse que não queria policiais muito instruídos na corporação, porque eles tendiam a ser mais desobedientes. Acabou pedindo desculpas. Mas será que não pensa mesmo assim? Que gente instruída só atrapalha? Que o melhor é ter não só policiais, mas também eleitores pouco educados que questionem menos?
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