Destruir documentos é típico de quem tem culpa no cartório. O caso mais recente no Paraná, de Bibinho, o ex-diretor da Assembleia que segue preso, lembra outro na Europa.
Quem lembrou primeiro a semelhança foi o Marcus Vinícius. (Minha mulher havia me lembrado da coincidência antes, mas quem disse que eu fui rápido o suficiente?) Está tudo contado no livro Stasilândia, da australiana Anna Funder.
A Stasi era a polícia política da Alemanha Oriental. Depois que o muro caiu, descobriu-se que os pervertidos que fuçavam na vida alheia tinham tido tempo para destruir boa parte das provas que os incriminariam.
O que os alemães fizeram? Puseram mãos à obra. Dezenas de voluntários, especialmente mulheres, passaram a dedicar seu tempo a juntar pedaços de papel picado, como num quebra-cabeças.
Veja um trecho do livro, publicado no Brasil pela Companhia das Letras:
“Há montanhas de pedacinhos de papel sobre a mesa – alguns organizados em pilhas, mas outros espalhados por toda parte. É tanto papel picado que a mesa não é suficiente, e o funcionário começou a empilhar os pedaços sobre um gabinete também. Os pedaços são de tamanhos difertentes, desde um quinto de uma folha A4 até papeizinhos de dois ou três centímetros quadrados. E não há nada que os impeça de sair voando pela sala ou pela janela afora.
“Herr Raillard interpreta mal a expressão em meu rosto. “Sim, é muito trabalho, como a senhora pode ver”, ele diz.
“A sala seguinte é parecida. (…) Na próxima sala, os pedacinhos são ainda menores. “É um trabalho minucioso”, diz Herr Raillard, “o maior número de pedaços que tivemos em uma página até agora foi 98.”
No final da visita da jornalista/escritora, o guia mostra um cálculo feito pelo grupo. Veja:
“1 funcionário reconstrói em média 10 páginas por dia.
40 funcionários reconstroem em média 400 páginas por dia.
40 funcionários reconstroem em média 100 mil páginas por ano de 250 dias de trabalho.
Cada saco contém em média 2.500 páginas.
100 mil páginas correpondem a 40 sacos por ano.
No total, a Administração dos Arquivos da Stasi abriga 15 mil sacos.
Isso significa que, para a reconstrução completa dos documentos, seriam precisos 40 funcionários e 375 anos.”
Você acha que eles desanimaram?
Que tal fazer o mesmo com o saco de papéis picados do Bibinho?