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Sem querer, Jair Bolsonaro (PSL) pode estar fazendo um imenso favor à Folha de S.Paulo. Ao deixar claro nos últimos dias que pretende perseguir o jornal, que fez a mais crítica cobertura de sua campanha eleitoral, o presidente eleito está transformando a Folha no jornal que seus críticos desejarão apoiar.

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Nos Estados Unidos, os jornais que mais cresceram nos últimos dois anos foram justamente os que se comprometeram a fazer uma fiscalização dura (porém justa) do governo de Donald Trump, um político que tem postura semelhante à de Bolsonaro no tratamento com a imprensa, chamando de falsidade tudo que lhe desagrada.

O New York Times, mais importante jornal americano, teve uma explosão no número de assinaturas digitais desde 2016. De lá para cá, aumentou em cerca de um milhão de pessoas que pagam para ler o jornal na Internet – antes eram 1,4 milhão de pessoas, hoje são perto de 2,4 milhões.

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Os jornais que se propuseram a enfrentar a guerra cultural de Trump, fazendo uma cobertura séria e não atrelada a sua visão de mundo, ganharam em credibilidade. Há números mostrando que leitores assinam o periódico não apenas para se informar, mas também para prestigiar e apoiar o jornalismo de qualidade.

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Com tudo isso, o Times aumentou os seus lucros em 66% no período. Nada desprezível, ainda mais para uma época em que os jornais lutam pela sua própria sobrevivência.

Outros veículos tiveram destino semelhante, como o Washington Post. Além disso, novos veículos e formatos receberam adesão de milhões de pessoas que passaram a contribuir voluntariamente com dinheiro para financiar jornalismo independente: casos da ProPublica e do RadioLab, por exemplo.

O jornalismo é valorizado pelo leitor justamente na medida em que se mostra independente, fiscalizador e relevante. Bolsonaro, ao admitir que a Folha não se curvou a ele, está dizendo aos milhões de brasileiros insatisfeitos com suas posturas qual é o jornal que devem procurar.

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