A audiência pública sobre o sistema de transporte privado Uber virou confusão, como sempre. O deputado federal Nelson Marchesan Júnior (PSDB-RS) defendeu o sistema, foi vaiado por taxistas e saiu sob escolta. Os taxistas chiaram a plenos pulmões. Deputados contra o sistema prometeram levar o caso para a Justiça.
Parece que o Uber tem esse dom: causa confusão onde aparece. A expectativa era de que a sessão ficasse ainda mais tensa. Os taxistas falaram que há um ônibus lotado de taxistas chegando ao Congresso Nacional. E tem muito taxista que já deixou claro o quanto odeia o concorrente, inclusive com pancadaria para cima de motoristas do Uber.
Não é difícil entender porque o sistema provoca tanta polêmica. Os taxistas são uma categoria razoavelmente organizada, que defende seu pão com unhas e dentes. Hoje, a renda deles depende basicamente de uma coisa: o monopólio. A lei brasileira, apesar de possíveis brechas, foi feita para proteger esse monopólio.
Esse monopólio não é necessariamente ruim. A falta total de regulamentação seria muito mais problemática. Imagine se todo mundo pudesse sair por aí pegando passageiros sem qualquer filtro, como poderia querer algum defensor da total liberdade de empreendimento. Há alguns problemas a ser pensados.
1. Preço: na busca por um preço sempre mais atraente, pode haver precarização do serviço.
2. Situação do trabalhador: grandes empresários poderiam bancar frotas de carros, mas para maximizar o lucro reduziriam o salário dos motoristas.
3. Segurança: nessa situação, o motorista poderia ser levado a fazer trechos ainda mais longos de trabalho, sem dormir ou descansar, colocando em risco a sua segurança e a do passageiro.
4. Fiscalização: a fiscalização ficaria muito mais difícil, assim como a regulamentação, potencializando todos esses problemas.
O que não quer dizer que o monopólio seja totalmente positivo. Afinal, como se sabe, o formato atual levou a formação de empresas, dentro do sistema de táxi, que já pagam mal aos motoristas; às vezes o serviço não atende a população toda; há gente lucrando com o táxi sem trabalhar, simplesmente por ter conseguido (ou comprado) uma permissão décadas atrás; o preço é mais alto do que poderia ser.
Tem muita gente querendo convencer você nesta, como em outra polêmica, que só um lado representa o bem e que o outro é o atraso (os táxis) ou uma inovação 100% prejudicial (o Uber). Basta pensar um pouco para ver que não é bem assim.
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