O levantamento do TSE mostrando que os brasileiros se filiam cada vez menos a partidos políticos diz alguma coisa sobre a crise de representação que vive o país. Segundo número divulgados pela Agência O Globo, 136 mil novos militantes se filiaram no ano passado. No mesmo período do cilo eleitoral anterior, em 2009, haviam sido 2,5 milhões. As manifestações de rua são citadas como uma explicação. Mas na verdade, podem ser ambos sintomas de algo mais.
Os partidos, como diz o cientista político, são agências de empregos públicos. Boa parte das pessoas que se filiam o fazem na expectativa de, no futuro, conseguirem uma boquinha em um governo, assim que a legenda conseguir ganhar o Executivo local ou nacional. E, se não ganhar, é bom que faça aliança com alguém que tenha como dar cargos. Não é disso que se trata quando se fala de PMDB? Partidos capazes de fazer aliança com qualquer lado são os que costumam ter mais filiados. O campeão (nas duas pontas) é o PP, que se alia com quem for. E por isso tem muitos filiados.
Não é à toa que entre os partidos grandes só o PT cresce a olhos vistos. No poder, tem como beneficiar a todos os que entrarem. E faz isso, claro. Não é cinismo. Há quem entre em legendas também por achar que pode fazer algo, talvez mudar o mundo. Mas não sejamos ingênuos. Como buscar mudar o mundo com a estrutura atual dos partidos?
Por que alguém iria se filiar, digamos, a um partido grande qualquer, se não for com a intenção de proveito próprio? Claro: pode ser ideologia. Mas quais partidos têm ideologia? Talvez uns dois ou três. Nos demais, há a busca de poder. Mas quem tem como buscar o poder? E mesmo nos partidos ideológicos, como alguém entra e espera conseguir mudar algo? Todos os partidos são dominados por caciques.
No Paraná, por exemplo. Se você entra no PMDB, ficará à mercê da disputa de Requião contra os deputados. No PSDB, será o que Richa quiser. No PPS, todos vivem à sombra de Rubens Bueno. No PDT, fora Osmar Dias e Gustavo Fruet, quem manda? O PT tinha uma tradição de fazer prévias, pelo menos. Mas até isso está se perdendo.
A falta de democracia interna dos partidos corrói a democracia brasileira. Os caciques fazem o que querem, e como os partidos têm o monopólio das candidaturas (sabe-se lá por que…), só eles têm condições de decidir quem chegará a cargos importantes. Num sistema menos autocrático, você entraria numa legenda e poderia disputar prévias para ser candidato a algo. E os militantes teriam como influenciar nessa decisão. Mas não: tudo é feito na base do “patrão mandou”.
Assim, quem é que vai querer se filar? E por quê? Só para ser pau mandado dos outros?