Michel Temer. Isac Nobrega/PR.| Foto:

Da coluna Caixa Zero:

CARREGANDO :)

Dia desses, com a crise desgraçada que não deixa a gente em paz, alguém lembrou por aí a frase do gênio H.L. Mencken. “Para todo problema complexo existe uma solução óbvia, simples e completamente errada.” Porque, convenhamos, o que não falta a essa altura são inovadores da política mundial dizendo que acharam a salvação da lavoura. Alguns descobrem a pólvora sozinhos. Outros recorrem aos velhos baús de Marx, Mises ou sabe-se lá mais quem.

Os ideólogos do Liberalismo Sem Fronteiras têm o diagnóstico prontinho. E o remédio para eles está, claro, na diminuição do Estado. “Dá poder demais na mão de político e você está vendo o que acontece!” Ou então: “se você não tivesse tanto dinheiro na mão do governo, ia diminuir a quantidade de dinheiro roubado, ainda que a porcentagem fosse a mesma”.

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A panaceia do Estado menor prega que as empresas são reguladas pelos consumidores. E esquece de dizer que o controle do consumidor é ainda menor do que aquele que o eleitor exerce sobre os seus eleitos. Assim como o comprador pode trocar de marca, o eleitor pode trocar de partido. Mas no caso do comércio, não há qualquer cláusula de contrato que obrigue os donos do negócio a pensar no bem comum.

Acreditar que as empresas tendem à bondade e os governos à maldade é tão ingênuo quanto o seu contrário. Nos dois casos, o que prevalece é o fator humano: somos todos humanos, expostos à tentação. Basta ver no escândalo atual – tão culpados quanto petistas, tucanos e peemedebistas são a Odebrecht e a JBS. Não existe corrompido sem corruptor. E alguém acha que as empreiteiras e o agronegócio foram apenas “obrigados” pelos governos a fazer mutreta?

Os ideólogos do Estado-Resolvedor-de-Todas-as-Coisas também fecham os olhos a muitos problemas expostos na crise atual. Como o fato evidente de que nenhum partido (entre os competitivos) foi capaz de se oferecer como solução real para o problema. E de que os impostos que estamos pagando escorrem para o bolso de quem inchou o governo com uma velocidade espantosa.

Não há solução fácil, nem há mágica. E quem acha que bastava dar um susto no pessoal para eles aprenderem que pense de novo. Mesmo com a Lava Jato em curso e a Polícia Federal prendendo mais gente do que a Stasi na época da Alemanha Oriental, um deputado amigo do rei achou que não tinha problema carregar por aí uma malinha com meio milhão de patacas.

E o senador que preside um importante partido – mesmo na República dos Grampos – pensou que podia pedir dois milhõezinhos para o compadre empresário. E ainda ligar para pedir que um ministro do Supremo interferisse num projeto que tentava barrar a Lava Jato. E o ministro não viu problema em topar!

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Democracia é como filho. Uma coisa linda, mas dá um trabalho do cão. Para fazer tudo ficar no lugar, você tem de insistir todo dia, repreender, punir, oferecer incentivos e ficar de olho. Além claro, de deixar a regra clara. Mas, assim como na criação dos filhos, a coisa só dá resultado depois de anos de insistência.

Não vai ser uma Lava Jato que vai botar o país nos eixos. Nem qualquer saída ideológica miraculosa. Se for para isso acontecer, vai ser com o esforço de muito mais gente. Principalmente o seu e o meu.

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