A mudança na regra de cotas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que causou muita reclamação nas redes sociais, pode finalmente fazer com que a instituição chegue mais perto de atingir o nível de diversidade com que tinha se comprometido dez anos atrás.
Em 2004, quando aprovou as cotas sociais e raciais, a UFPR determinou 20% de vagas para cotistas sociais e 20% para negros. Dez anos depois, o que se viu foi que apenas 7% das vagas eram preenchidas via cotas raciais. O restante voltava para a “concorrência geral”.
O problema do sistema antigo, de acordo com os críticos, era que se tratava de um tipo de cota “de mentirinha”. É o que escreve o cientista político Emerson Cervi, professor na própria UFPr. Ao botar todos para concorrer em pé de igualdade na primeira fase, e separar os cotistas só na segunda etapa, exigia-se do candidato justamente aquilo que as cotas deviam corrigir: exigia-se que ele estivesse em condições de igualdade com candidatos que tiveram mais sorte na “loteria da vida”.
O resultado era que grande parte dos candidatos que se inscreviam por cotas não passavam pela primeira barreira. E por falharem nesse sistema “meritocrático” ficavam de fora, quando as cotas deveriam ser justamente um contraponto à meritocracia. Ou seja, deviam escolher candidatos com base em perfil social, e não unicamente com base em seu desempenho nas provas padronizadas.
De acordo com Cervi, a discrepância nas notas entre cotistas e não-cotistas no vestibular de 2015-2016, que segundo reportagem publicada nesta quarta-feira na Gazeta do Povo chegou a 383% em alguns cursos, é justamente a prova de que o sistema precisava ser modificado.
“O dia em que cotistas tiverem as mesmas médias que os não-cotistas, o sistema não se justificará mais. E eu estarei contra as cotas. No entanto, hoje, é vergonhosa a exclusão social e racial que o vestibular produz nas universidade públicas brasileira. É um vexame, digno de uma sociedade do século XIX. Temos que mudar isso”, afirma.
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