A Comissão da Verdade tinha tudo para ser um instrumento importantíssimo na história da (breve) democracia brasileira. O assunto, obviamente, é relevante: estamos tratando de 21 anos de ditadura, perseguição política, violência de estado, censura, mortes. O princípio mostrava avanços no país: era o próprio Estado quem estava disposto a investigar e assumir os erros do passado.
Mas, depois de mais de um ano de atividades, a comissão tem um resultado, até aqui, frustrante. Houve alguns fatos importantes: a decisão de exumar o corpo de Jango, para tentar confirmar a hipótese de assassinato; a exposição pública de alguns torturadores; a mudança da certidão de óbito de Herzog, para confirmar que ele foi morto pelo Estado. Entre outros, claro. Ótimo. Mas é pouco.
Lógico que ninguém imaginou que uma comissão, em dois anos, mudaria a história. Mas até agora parece que as investigações estão longe de chegar ao fundo do problema. Não é de espantar: é pouca gente, trabalhando com pouco tempo disponível e depois de duas décadas de omissão do Estado. Se Sarney, Collor, Fernando Henrique e Lula não tivessem sido tão ineptos, as coisas poderiam ter sido investigadas antes.
Agora, para cúmulo de males, os integrantes da comissão não se entendem mais. Gilson Dipp diz hoje a O Globo que a comissão chegou “ao fundo do poço”. Os conselheiros se digladiam para ver quem tem a estratégia certa. Um quer fazer convocação de torturadores, outro de vítimas. E ficam perdendo tempo com picuinhas quando só falta pouco mais de um semestre para o trabalho se encerrar.
Dilma Rousseff, que teve a coragem de implantar a comissão, fez o certo ao estabelecer prazo, para que a coisa não corresse indefinidamente. Mas é nítido que será preciso estender esse prazo e talvez reformular a comissão. Ou corre-se o risco de perder essa bela chance de apurar os erros do passado para que eles nunca mais se repitam.
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