A prefeitura de Curitiba finalmente aparece com uma possível boa notícia para os passageiros de ônibus, depois de um ano fraco de novidades. A última boa notícia veio em julho passado, quando Gustavo Fruet, pressionado pela multidão nas ruas, baixou a tarifa para R$ 2,70. Depois, ficamos todos à espera de alguma novidade, já que a própria prefeitura parecia disposta a fazer algo mais e dizia que a licitação das atuais empresas foi cheia de problemas. Mas nada. Tudo é para ser analisado um dia no futuro distante.
Depois, só picuinhas, miudezas e timidez. Como no caso dos micro-ônibus. A lei manda haver cobradores. Isso melhora a vida de todo mundo. Mas a administração pública insiste em descumprir a lei por causa de cinco centavos na tarifa. Agora, chegou a dizer que ampliará os lugares de recarga do cartão-transporte, esse burocrático e ineficiente meio de compra antecipada de passagens. Mas só porque pretende barrar nos micros quem quer pagar em dinheiro. Tudo para descumprir a lei e poder, ao mesmo tempo, dizer que não está atrapalhando o cidadão!
Na reportagem desta segunda-feira desta Gazeta, assinada por Raphael Marchiori, a Urbs mostra novamente sua timidez. Diz que se recusa a discutir bilhete único na cidade por enquanto. Isso traria um aumento de custos de 13%, diz o presidente Roberto Gregório, e a ordem é baixar custos. Mas a mesma reportagem mostra que, em São Paulo, a adoção do bilhete único tornou o sistema financeiramente mais saudável.
Ao ponto: bilhete único quer dizer integração de verdade do sistema. Hoje, só pega dois ônibus com uma passagem quem pode fazer a troca em um terminal. Se precisar descer na rua, paga de novo e não pode chiar. Em São Paulo, o sujeito pode usar até quatro ônibus em três horas pagando uma passagem só. Por que isso melhora as finanças? Por que as pessoas sentem que vale a pena usar e passam a andar mais de ônibus, simples assim.
Economia é um bicho difícil de entender. Os autores da série de livros Freakonomics. Eles mostraram por exemplo o caso de uma escola que passou a cobrar uma taxa adicional para pais que se atrasassem para pegar os filhos na saída. Imaginaram que isso faria todos chegarem no horário, evitando o pagamento de horas extras. Mas o que ocorreu foi o contrário. As pessoas passaram a entender que tinham o direito de se atrasar, desde que pagassem por isso. E passaram a se atrasar mais.
A timidez da prefeitura consiste em não tentar entender essas leis de oferta e procura. Baixar custos a todo preço é tolice. No limite, se você usar ônibus velhos, sucateados, lotados e sem integração está cortando custos. Mas afasta os passageiros, e o lucro cai. Com ônibus bons, menos lotados e integração, mais gente usaria o transporte coletivo. A prefeitura teria lucro (e também as empresas!). Os cidadãos ficariam felizes. E a cidade poluiria menos. O trânsito descongestionaria.
Fruet já disse mais de uma vez que gerir o sistema não pode ser apenas cortar custos. Tem toda a razão. Mas precisa mostrar que na prática ele e a Urbs estão falando a mesma língua e tentando chegar a um modelo melhor. Por enquanto, continuamos contando os centavos. E quem precisa do busão que pague várias passagens. Ou pegue o carro.