Quem olha o resultado do primeiro Datafolha do ano fica espantado com algumas coisas. Primeiro, com a incrível capacidade de Lula de se manter com mais ou menos 40 milhões de votos apesar de tudo. Segundo, com a ausência completa de alguém que preencha o vácuo caso ele não seja candidato.
Lula dominou de tal forma a política nacional nos últimos 15 anos que parece ter tornado anões todos à sua volta. Não necessariamente os outros são anões, nem ele é necessariamente gigante. Mas o carisma do ex-presidente e o jogo que ele inventou o tornaram imbatível. Ou quase.
Para muita gente, é o novo Getulio, que à sua moda também monopolizou o país durante duas décadas e meia. E Getulio, curiosamente, também só saiu de cena depois de denúncias e, no caso dele, com um fim trágico.
Quem está no páreo
Lula lidera as pesquisas com folga. Em segundo lugar, o deputado Bolsonaro é um sujeito histriônico e sem qualquer substância que se aproveita meramente de um momento de caos e turbulência. Jamais foi grande, jamais será. Em breve, tudo indica, voltará à obscuridade a que pertence, aos porões da história em que habitam seus heróis torturadores.
E os outros? Entre os políticos, digamos, que se pode levar a sério? Há alguns vestígios de liderança. Mas pobres. Geraldo Alckmin, que se instalou no governo estadual mais poderoso do país há 24 anos (só se afastando por quatro), não consegue decolar. E pode ser tudo – menos um grande líder popular.
À esquerda, nenhum nome digno de nota. Quem ainda causa alguma marola é Ciro Gomes, um sujeito que, pelo menos, não se pode chamar de despreparado, muito pelo contrário. Mas será que ele tem estabilidade emocional e carisma para se tornar algo maior do que já foi?
O PT, com Jaques Wagner, tropeça em ridículos dois pontos de intenção de voto. Isso dá meio Alvaro Dias.
Marina Silva surgiu em algum momento como “o novo Lula”. Uma mulher pobre que se fez por conta própria trabalhando por causas justas. E, convenhamos, com preocupações mais variadas e mais modernas do que as do petismo convencional. Mas Marina se omitiu da vida nacional num momento de caos, coisa que líderes não fazem. E agora parece estar patinando em índices bem menores do que já teve.
Os riscos
Não se trata de esperar um salvador da pátria. Mas de perceber que o país vive um vácuo, mais ou menos como em 1989. E naquele momento, vale lembrar, acabamos sugados pelo populismo barato de um Collor de Melo. Dessa vez, corremos riscos parecidos.
Sem partidos sérios, sem prévias que permitam o aparecimento de nomes novos, sem processos internos democráticos, parecemos fadados a ter de escolher entre os poucos nomes que a meia dúzia de caciques nos empurra. E o cardápio, infelizmente, anda parecendo bastante indigesto.
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