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De repente, todo mundo é contra a comissão geral…
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Da coluna Caixa Zero, publicada nesta quarta-feira, na Gazeta do Povo:

De repente, todos os deputados estaduais paranaenses são contra a comissão geral, veja só. Até mesmo os que, ainda este mês, aprovaram um requerimento pedindo que o plenário fosse, mais uma vez, transformado em comissão geral. Agora, quase sem exceção, eles gritam em alto e bom som: a comissão geral é um absurdo. É preciso extingui-la! Mais do que isso: é preciso extingui-la rapidamente!

Os deputados que pediram comissão geral entraram com um requerimento para acabar com ela. Rapidamente, a oposição, que dessa vez foi contra mas que já usou o mesmo instrumento em mandatos passados, fez questão de apresentar um outro requerimento para dizer que eles são ainda mais contra a comissão geral. Eles são o grupo dos autênticos odiadores da comissão geral. Os outros são adesistas de última hora.

Mas por que agora todo mundo é contra? A resposta é mais ou menos simples, mas o melhor talvez seja começar explicando por que todo mundo antes era a favor. A comissão geral, vulgarmente conhecida como tratoraço, é um instrumento para garantir a aprovação de qualquer projeto a toque de caixa. É um jeito de passar por cima da oposição. Por consequência, quem está no governo em geral é a favor.

No caso em questão, serviria para: cortar benefícios e direitos de funcionários (dessa parte o governo acabou desistindo depois da primeira onda de insatisfação); desmontar o sistema de aposentadoria usando já o dinheiro que deveria servir como poupança para o futuro; e aliviar o caixa do governo mudando a regra de pagamento de precatórios, entre outras coisas. Claro que a ideia era aprovar rápido para não dar tempo de discutir. Viria o carnaval, todos esqueceriam e o mundo continuaria como estava.

Para a maioria das pessoas o sistema sempre foi absurdo. Isso porque, no dicionário da maioria das pessoas, absurdo quer dizer algo como “aquilo que não se deve fazer”. Está errado, e portanto, não se deve usar. Por isso, sempre que o líder de governo de plantão tirava da cartola o rolo compressor, começavam imediatamente a surgir as reclamações: da oposição, de quem era afetado pela proposta, da imprensa.

Os deputados (enquanto estavam ao lado do governo da vez) sempre fizeram o discurso de que a lei permite, é o regimento, sempre foi assim. Seria tolice lutar contra. São fatos da vida. Até que de repente uma multidão pulou a mureta (física, não metafórica) e tomou conta do plenário. Os deputados, acossados, se refugiaram em sessões inusitadas no restaurante da Assembleia. Até que ameaçaram entrar lá.

Veja como são as coisas: a maioria dos deputados estava tão determinada a votar em regime de comissão geral que se sujeitou a entrar em um ônibus do choque, numa situação bizarra e inédita, para furar o cordão de manifestantes com a ajuda da Polícia Militar. E, de repente, todos são contra aquilo que estavam fazendo.

Óbvio que tem a ver com o fato de os manifestantes terem quase virado o ônibus do Choque e de os parlamentares terem achado que seriam linchados em praça pública. Mas tem a ver também com a própria definição do que é aceitável do ponto de vista de um político profissional que busca a reeleição. No dicionário de quem vive por essa cartilha, absurdo quer dizer o seguinte: “É aquilo que ameaça o meu mandato”.

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