O debate entre Roberto Requião e Kim Kataguiri nesta quinta-feira na Rádio Guaíba, em Porto Alegre, foi de certa maneira uma prévia do que pode ser a eleição de 2018: uma longa discussão ideológica centrada na Lava Jato em que ninguém ouve o que o outro está dizendo.
O senador paranaense hoje talvez seja um dos maiores símbolos do nacionalismo de esquerda no país. É raro ainda ouvir alguém usar a palavra “entreguismo” num discurso. Ou falar em intervenção americana, em influência nefasta do capital estrangeiro.
Nesse sentido, dificilmente alguém se oporia mais ao menino Kim, do MBL, que defende o discurso liberalíssimo da “nova (sic) direita”. Embora admita ter pouca leitura na área (deu uma entrevista dizendo que de Mises, seu herói, só leu “Seis Lições”, um livreto de 80 páginas), Kataguiri repete a cantilena básica dos defensores do livre mercado.
O debate, promovido pela rádio, não foi debate. Assim como nunca são debates os encontros entre presidenciáveis: são, como na vida normal, monólogos superpostos. Cada um fala aquilo em que acredita, ignora o que vem do outro lado, e segue na mesma toada quando recupera a palavra.
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O assunto principal foi economia. Mas a corrupção, como ocorrerá em 2018, também estava lá. E embora uma das partes fosse um senador ligado ao PMDB, quem passou pelo constrangimento nesse tema foi Kataguiri, ao tentar explicar porque o MBL não apoia que se investigue Michel Temer. Não há resposta decente possível.
O interesse do garoto, porém, que é candidato a deputado federal, era outro. Sabendo que seu público é de internet, não de rádio, queria um ou dois minutos perorando sobre o livre mercado para fazer um videozinho com título “Kataguiri esmaga Requião e dá aula de economia”.
Requião parece acreditar que tem como forçar, na ausência de Lula, uma candidatura de esquerda em que ele seria parte. Se não como cabeça de chapa, talvez como vice. Por isso parece se interessar em participar de debates e manifestações pelo país.
Pelo que se viu mais uma vez, seria uma candidatura com cara de debate dos anos 1960. Mas o que no Brasil hoje é diferente dos anos 60?
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