O senador Delcídio Amaral inaugurou uma nova era no escândalo da Lava Jato. Foi o primeiro a ser pego fazendo chuncho para encobrir o chuncho. É uma tentativa comum: ao ver que o barco está afundando, o sujeito se agarra a qualquer possibilidade de salvamento. Muitas vezes, o plano é ilícito.
Pelo que se vê da gravação de Delcídio, ele queria dar dinheiro para que o delator não delatasse. Ou seja: a compra do silêncio era o que estava em jogo. Lembrando que a maior parte da Lava Jato depende de testemunhos e delações dos próprios corruptos e corruptores, o raciocínio de Delcídio pode ter sido esse: se ninguém falar, ele (e sabe-se lá mais quem) estaria livre.
O plano fracassou aparentemente porque a proposta não convenceu Nestor Cerveró. Por quê? O dinheiro foi pouco? Ele acha que tem chances melhores de sair da cadeia logo se fizer o caminho da delação? Desde o início era uma sinuca para ter o que entregar à Polícia Federal? Só se pode especular. Mas descobre-se que o escândalo chegou à fase em que os mais espertos jogam os outros aos leões para sobreviver.
Com isso, os caminhos para os envolvidos (petistas ou não) fica ainda mais estreito. Corre-se sempre o risco de tentar comprar um delator e ele estar só passando a perna no comprador. Vende, mas não entrega. Se antes eram só os outros que não podiam confiar nos que estavam metidos no esquema, agora são eles que não podem mais confiar uns nos outros.
O chuncho para encobrir o chuncho é uma prática antiga e tremendamente perigosa em política. O único presidente dos Estados Unidos a cair do cargo, Richard Nixon, não foi obrigado a renunciar pela espionagem aos democratas em Watergate – o que o levou ao cadafalso foi a tentativa de encobrir as provas do que havia sido feito.
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