O procurador Deltan Dallagnol, chefe da força tarefa da Lava Jato, lançou um livro em que admite um vínculo, ainda que indireto, entre o impeachment de Dilma e uma tentativa de barrar as investigações. O procurador tratou do tema também em entrevista exclusiva à jovem e sábia repórter Kelli Kadanus.
Isso não quer dizer que Deltan, um dos heróis da turma antipetê, tenha aderido à tese do golpe. Mas quase. O procurador faz questão de dizer que, “em sua leitura”, a votação que cassou Dilma se deveu a outros fatores. Mas só para afirmar logo em seguida que os senhores e as senhoras que votaram contra Dilma usaram o poder obtido com isso (com a ascensão de Temer) para investir contra a operação.
Ou seja: dos três elementos usados pelo PT para dizer que o impeachment fazia parte do Plano Jucá (aquele segundo o qual era necessário “colocar o Michel para estancar a sangria”), Deltan admite que dois, na sua visão, estão dados.
1- O grupo pró-Temer e anti-Dilma estava coalhado de gente interessada em barrar a Lava Jato antes que a força-tarefa chegasse neles.
2- Assim que Dilma caiu, o pessoal botou a mão na massa para derrubar a Lava Jato.
O que ele não vê é apenas a ligação causal entre uma coisa e outra. Ou seja: na parte dos “dados” ele concorda que havia o interesse (aquilo que num crime costuma se chamar de “motivo”) e que depois de consumado o impeachment esse interesse se pôs em ação. Falta dizer que o impeachment foi feito para que isso fosse possível. Não é pouca coisa.
Outro ponto em que o procurador não dá moral para o PT: Deltan diz que na opinião dele o governo petista atacava igualmente a Lava Jato. E que isso faz parte de um instinto humano de autoproteção.
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