Os brasileiros conhecem pouco o Congresso Nacional e por isso muita gente se assustou com o nível dos discursos na Câmara durante a votação do impeachment de Dilma Rousseff. Mas os deputados federais são pródigos em produzir pérolas como as que foram exibidas naquele dia.
Nesta quarta-feira, em uma discussão sobre a criação de uma Comissão das Mulheres na Câmara, o deputado Flavinho, do PSB de São Paulo, reagiu aos discursos de deputadas que falavam sobre o empoderamento das mulheres.
O vídeo vai acima, mas a transcrição é a que se segue, contando a partir de 2:06:
“A mulher que está lá fora, que não são feministas como muitas aqui, a mulher de verdade que está lá fora ralando para sobreviver, ela não quer empoderamento, ela quer ser amada, ela quer ser cuidada, ela quer ser respeitada. Quem quer ser empoderada é feminista. Agora, a mulher de fato que está sofrendo não precisa de empoderamento, ela precisa ser amada e cuidada. E não venham me dizer que nós homens não entendemos de mulher. Entendemos sim. É que as senhoras muitas vezes não entendem o que é ser amada e acham que essas pessoas também não querem ser amadas como as senhoras.”
Há tanta coisa errada nesse discurso que é difícil saber por onde começar a explicar. Mas, só para levantar alguns itens:
1- O nobre deputado faz uma diferença entre dois tipos de mulheres: as mulheres “de verdade” e “as feministas”. Ou seja, a partir do momento que que vira feminista, a mulher deixa de ser mulher de verdade, aparentemente.
2- O deputado acha que só as mulheres feministas (essa subespécie geneticamente identificável) querem ser empoderadas. As demais querem ser passivas: os verbos todos, aliás, estão na voz passiva – cuidadas, amadas, respeitadas. Não é nem que queiram amar, querem ser amadas.
3- As feministas não entendem isso porque não são amadas. (O argumento da mulher mal amada é o mais cruel usado em qualquer debate sobre feminismo. Ou seja: se a pessoa tivesse encontrado um homem que gostasse dela não estaria pensando bobagem. Não seria deputada, por exemplo. Estaria em casa sendo bem cuidada.)
4- As mulheres de verdade são as que querem respeito, mas sem poder (é isso que quer dizer “empoderamento”). Ou seja, querem ser respeitadas sem poder mandar em nada. Mas que espécie de respeito é esse?
5- Homens entendem de mulheres mais do que feministas…
Curioso é saber que boa parte das mulheres eleitas para cargos públicos realmente prefere se dizer “feminina” a feminista. E tratam o feminismo, assim como o deputado, como um problema.
Outra curiosidade: no ano passado, Flavinho deu outra declaração daquelas. Ao criticar a ideia do casamento gay, falou que: “A família começa com o encontro de um pênis com uma vagina”.
Vai bem o Congresso. Vai bem o país.
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