Quero fazer um desafio ao leitor, à leitora, independente de você trabalhar na iniciativa privada ou para o governo. Tente convencer a chefia de que você não precisa mais comparecer de segunda a sexta. Chame o expediente de terça a tarde de “quarta-feira”, por exemplo. A quarta de manhã vira quinta; e a tarde, chama-se “sexta-feira”.
Portanto, você já vai ter trabalhado de segunda a sexta, mesmo tendo isso só até quarta. E aí, no final da quarta, você pega as suas coisas, e passa um fim de semana estendido em casa ou fazendo o que quiser até a próxima segunda-feira chegar. Vai que cola?
No caso dos deputados estaduais do Paraná, colou. Eles decidiram que ter sessões três dias por semana estava pesado demais. Exaustivo. E encontraram um jeito de reduzir essa carga sobre-humana. Decidiram fazer a sessão de quarta na terça, depois da de terça. Aí só trabalham dois dias por semana. Não é genial?
Imagino que o próximo passo seja chamar a segunda parte de agosto de “setembro” e aí passar o mês antes da eleição completamente dedicados a renovar esse mandato que garante todas essas mordomias.
A maioria dos deputados estaduais é empresário. No entanto, nunca se ouviu falar que nenhum deles tenha concedido um regime de trabalho semelhante para seus funcionários. Poderiam: na iniciativa privada, o patrão faz o que quer, respeitada a lei.
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O problema real é que a brincadeira semântica dos deputados não faz deles meros espertalhões que recebem por um mês trabalhando dois dias por semana. Mas coloca em risco um princípio básico da democracia, que é dar chances iguais de todo cidadão vencer uma eleição.
Além de ter um gabinete de 23 funcionários trabalhando por eles 12 meses por ano; de ter verba parlamentar; de estarem na mídia; de contarem com apoio desmesurado do governo; eles acham que não basta. Decidiram ser remunerados com dinheiro público pelos dias que passam em campanha.
Quando se discute financiamento público de campanha, é de outra coisa que se fala. Os deputados do Paraná, assim como seus pares de outros estados, criaram um bolsa-reeleição. E quem paga, meu amigo, minha amiga, é você.
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