A ideia do governo do estado de cercar a Assembleia Legislativa para garantir a votação de seu pacote de ajuste fiscal não desagrada só os funcionários públicos. Desagrada aos próprios deputados estaduais aliados a Beto Richa.
“Se eu fosse ouvido pelo governo eu diria para não fazer isso. Só vai atiçar o pessoal”, disse um deputado ouvido nesta sexta-feira, quando começaram a surgir os boatos de que os policias cercariam a Assembleia já no sábado.
Os deputados sabem do que estão falando. Graças ao primeiro pacotaço do governo, em fevereiro, tiveram de sair correndo de um plenário invadido por manifestantes; precisaram entrar na Assembleia em um “camburão” do Choque; e precisaram negociar sua saída de uma Assembleia sitiada na segunda tentativa de votação.
Agora, o governo, vendo que as medidas que programou, ainda que “suavizadas” continuam despertando a fúria de boa parte da população, e que a oposição e os sindicatos se mobilizam para novamente protestar, decidiu tentar se antecipar ao confronto.
Mas essa parece uma situação em que o governo dificilmente tem como sair ganhando. Se não usar de um esquema de proteção desse tipo, os manifestantes podem muito bem repetir o que já fizeram da outra vez. Armando o cerco, porém, dá margem a várias outras coisas. A primeira é a interpretação de que sabe que está agindo contra o interesse de boa parte da população.
O discurso será o de sempre: as medidas são necessárias, e os manifestantes são teleguiados pela oposição. Quanto à necessidade das medidas, o debate é mais longo. Mas não há como negar culpa do governo em deixar a situação chegar até o fundo do poço antes de agir. Isso, sim, levou à necessidade de medidas drásticas.
Também não há como negar que os sindicatos têm tendências partidárias e vão surfar na desgraça do governo. A APP tem fortes ligações com o petismo. Mas isso não é proibido. E, em política, é preciso saber lidar com as oposições, construir consensos e conviver com protestos. A obrigação da moderação é de todos. Mas o ônus, caso haja confronto, ficará para o governo.
Richa arrisca muito com essa jogada. Todos precisam torcer para não haver confrontos, obviamente. Mas o governador acima de todos. E colocar a tropa na rua não parece o melhor movimento para evitar que eles ocorram.
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