É normal que em alguns tópicos os extremos opostos se atraiam. Está acontecendo na questão do armamento/desarmamento. Normalmente se pensa que a direita é a favor de maior armamento da população e a esquerda, contra. Mas não é bem assim.
A direita radical, liderada no Brasil, pelo menos no Parlamento, pelo deputado Bolsonaro, vem fazendo campanha pelo rearmamento. E a “bancada da bala”, que aprovou em uma comissão especial uma “flexibilização” do Estatuto do Desarmamento, realmente é majoritariamente de direita.
Leia mais: Empresa de armas tem lucro na bolsa após flexibilização de lei.
A lógica da direita pode ser explicada por textos dos próprios parlamentares, como neste artigo de Bolsonaro para O Globo, anos atrás: “A política de direitos humanos, ao vender uma perfeição hipotética, na prática anestesia a população, inibindo-a de reagir a injustas agressões. Uma verdadeira lavagem cerebral faz o povo aderir à ‘cultura da paz’, como se a violência pudesse regredir com passeatas ou cruzes fincadas na Praia de Copacabana”.
A direita radical não-parlamentar, como os grupos de integralistas pelo país, também defendem algo semelhante e publicam manifestos em favor do direito às armas.
No entanto, apesar de a esquerda parlamentar (PT e PSol, por exemplo) se opor a isso, a esquerda radical (que não tem representação hoje no Congresso) anda fazendo campanha pelo armamento. E a lógica é totalmente diversa. Os partidários da “revolução”, como PCO e PSTU, dizem que a direita já está armada e que a esquerda precisa reagir.
PCO
O PCO, partido mais radical do país hoje à esquerda, e que no Paraná não chega, literalmente, a ter uma dúzia de filiados, escreveu o seguinte depois do filho de Bolsonaro ter aparecido armado em uma manifestação pública:
O direito de manifestação deve ser garantido a todos. É um direito coletivo. Se a direita fez uma manifestação e um integrante está armado isso serve para mostrar as reais intenções da direita. Mostra que o direito ao porte de arma deve ser liberado a toda população, até porque a direita já esta armada.
“Restringir o direito ao porte de arma querendo atingir a direita não tem condições de funcionar. A restrição só afeta a população mais pobre. A direita têm condições de ter armas e se esquivar da infração. Eduardo Bolsonaro apenas confirmou isso. Comprovou que a direita já está armada e já se esquiva de todas as restrições ao porte de arma. (…)”
“É dever da classe trabalhadora e dos movimentos sociais lutar para constituir verdadeiros agrupamentos de defesa dos direitos da população, que estará preparada para enfrentar a direita que já esta armada e preparada para a luta em defesa de seus interesses de classe.”
PSTU
O pessoal do PSTU escreveu coisa parecida:
“Os jagunços e pistoleiros que matam indígenas usam armas legalizadas? Os grupos de extermínio, muitas vezes compostos por policiais, usam armas legalizadas? As chacinas contra os oprimidos são feitas com armas registradas? A legalidade ou não do porte de armas pode impedir ou sequer dificultar tais chacinas? A resposta é negativa.
“Diante disto perguntamos: Os trabalhadores e oprimidos têm ou não o direito à autodefesa? Os Panteras Negras tinham ou não o direito à sua autodefesa diante da Ku Klux Klan? Ou deveríamos dizer que não, que deviam confiar no Estado e na polícia racista norte-americano? Os negros têm sim o direito à sua auto-organização e autodefesa contra os ataques racistas.
“Da mesma forma as mulheres. Desde campanhas simbólicas, como a distribuição de alfinetes contra abusos sexuais. Mas também é um direito da mulher andar armada para se proteger contra agressores. Como também é um direito dos sem-terra, quilombolas, indígenas, e todos os oprimidos.”
Tudo isso levanta a seguinte pergunta: será que ao invés de um debate entre esquerda e direita não se trata de um debate entre radicais e moderados?
Siga o blog no Twitter.
Curta a página do Caixa Zero no Facebook.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
A gestão pública, um pouco menos engessada
Projeto petista para criminalizar “fake news” é similar à Lei de Imprensa da ditadura
Inteligência americana pode ter colaborado com governo brasileiro em casos de censura no Brasil
Lula encontra brecha na catástrofe gaúcha e mira nas eleições de 2026
Barroso adota “política do pensamento” e reclama de liberdade de expressão na internet
Paulo Pimenta: O Salvador Apolítico das Enchentes no RS