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Na guerra de absurdos em que se transformou a internet, há gente propositadamente usando o caos do Espírito Santo para detonar quem pede o fim da Polícia Militar. “Sem polícia militar, houve o caos: é isso que vocês querem, é isso que a ONU quer?”, perguntam os mal intencionados.

Evidente que não. Ninguém pede o fim da polícia – o que se quer é o fim da polícia militarizada. Seria preciso ter a mentalidade de um alucinado parar querer que se acabe com o policiamento e ponto final. A crítica é à polícia em sua versão militar. Qualquer um que queira levar a discussão a sério e que tenha condições de discutir o assunto sabe disso.

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Mas num mundo em que o MBL se tornou referência para o debate nacional, é óbvio que esse tipo de argumento distorcido ganha espaço na internet. Não importa que as maiores autoridades em segurança (sim, incluindo a ONU) digam que o raciocínio pelo fim da militarização é justo e correto. O que se quer é avacalhar com o argumento alheio, transformando-o em algo ridículo.

A situação do Espírito Santo é caótica e é óbvio que ninguém quer que isso se repita. Por outro lado, é possível demonstrar que a militarização da polícia é justamente um dos problemas que levaram ao caos das ruas. Sem a militarização, a situação poderia ter sido contornada com muito mais facilidade.

O que está acontecendo no Espírito Santo é um protesto de PMs que estão com salários defasados e trabalhando em situações que eles dizem ser desumanas. Como todo trabalhador, é justo que eles tenham direito de reclamar. Ninguém merece expor a riscos sua vida, trabalhar em turnos exaustivos e ainda ter um pagamento defasado.

O problema é que a militarização da polícia faz com que os soldados, cabos e sargentos não possam fazer o protesto da forma que ops civis podem. Fosse uma categoria de civis, a PM poderia ter feito uma paralisação parcial, poderia fazer uma greve dentro dos parâmetros estabelecidos pela lei, mantendo os porcentuais mínimos para não prejudicar a população, por exemplo.

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Mas isso não é permitido pelo código militar. E eles apelaram para solução bem mais radical: usar suas esposas para fechar os quartéis. Fingem que o protesto não é deles. Mas se o quartel está fechado, ninguém pode sair. Não se pode manter um efetivo mínimo. E daí deriva o caos.

A discussão adulta e séria sobre a militarização ou desmilitarização passa inclusive pelas garantias dadas aos cidadãos e aos próprios policiais. Não é à toa que boa parte dos praças é a favor da desmilitarização. Mas isso não entra na discussão quando só se pensa em jogar argumentos tolos sobre uma questão de vida ou morte para policiais e populares.

Quando a política vem à frente de tudo o mais, o caos agradece e segue em frente.

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