Eleição não é só o resultado final: um ganhou, o outro perdeu. Tem uma infinidade de detalhes para discutir. No caso de uma disputa apertada como essa de Dilma e Aécio, mais ainda. Então, para colaborar com o bom debate (e existe o bom debate político, embora as redes sociais às vezes façam crer no contrário), lá vão dez considerações sobre a disputa entre PT e PSDB. Até pensando nos próximos anos. Ou alguém duvida que em 2018 os dois lados estarão lá de novo?
1- O PSDB ganhou terreno. O PT levou a eleição. Mas levou mais apertado do que nas disputas anteriores. Pela primeira vez desde que chegou ao poder, o partido de Lula e Dilma realmente tomou um susto. E, se o crescimento do PSDB continuar nos próximos anos, a derrota do petismo em 2018 parece quase certa. O partido, se pretende continuar onde está, terá de conquistar mais gente.
2- Retórica não ganha eleição. Aécio foi melhor do que Dilma em todos os debates. No entanto, não ganhou a parada. Apesar disso, o PSDB há de ter percebido que lança um candidato mais jovem e de boa aparência (e retórica) cola mais com a imagem de “mudança”. Ou seja: não há como saber se Aécio seria melhor presidente do que Serra ou Alckmin, mas como candidato certamente funciona mais.
3- O risco do PT é de perder para si mesmo. Pelo que se percebe, muita gente que votou em Marina e em Aécio, nos dois turnos, votou mais “contra o PT” do que a favor de alguma proposta específica. Isso pode ter relação com muita coisa (há quem fale até em racismo de classe), mas certamente também deriva dos vários escândalos de corrupção recentes.
4- A caneta de Dilma não está tão cheia. Dilma em seu primeiro discurso depois de reeleita, neste domingo, faliu em reformas, especialmente na reforma política. A questão é: ela terá cacife para bancar isso num Congresso autocentrado e dividido? O PT tem uma bancada que equivale a menos de 15% da Câmara. E a vitória apertada não facilita a vida de Dilma para fazer reforma alguma.
5- O PSDB ainda não aprendeu a fazer oposição. Aécio perdeu a eleição por muito pouco. Deixou para tentar causar todo o desgaste no PT às vésperas da eleição. Durante quatro anos no Senado ficou basicamente mudo. Terá sido uma estratégia inteligente? O PT, em seu tempo de oposição, era mais eficiente na cobrança do governo, não há dúvida.
6- Dilma terá de acenar para a classe média. Boa parte dos eleitores que preferiram Aécio (e uma parte imensa do movimento antipetista) vem da classe média. O partido criou a seguinte imagem para si: de que cobra muitos impostos, transfere o dinheiro para o Bolsa Família (e para Cuba), cobra muito, entrega pouco e ainda põe corruptos em estatais e ministérios. Se não fizer um afago na classe média (revisando a tabela do IR,. revendo regras de aposentadoria, sabe-se lá), a imagem tende a se deteriorar ainda mais.
7- A luta agora é pelo Congresso. Segundo a conta do repórter Chico Marés, se Dilma ficar só com quem esteve a seu lado na eleição, terá 304 votos na Câmara. É insuficiente para aprovar emendas constitucionais e ter votações qualificadas. Além do mais, é uma margem muito pequena que expõe o partido a chantagens o tempo todo. Mas como conquistar mais apoios sem aumentar a imagem de fisiologismo (e sem fazer concessões impublicáveis a partidos)? Eis o drama que está diante da presidente.
8- Aécio ficou fortíssimo para 2018. Disso dificilmente alguém discordará. Se não for pego em nenhuma blitz ou não fizer algo tremendamente burro, tem imensas chances de ser o sucessor de Dilma.
9- O PT precisa de um candidato. Em 2018, Dilma não poderá se reeleger. Lula estará com 73 anos. Quem será o candidato? Haddad? É preciso criar um candidato desde cedo, como se fez com Dilma. Mas Lula terá o mesmo poder para fazer isso agora que teve em 2010 com Dilma?
10- Marina ainda está no páreo. Apesar do terceiro lugar um tanto frustrante para quem chegou a liderar a corrida, Marina está viva. E seu partido está prestes a sair do forno. Seria a única ameaça possível aos dois partidos maiores daqui a quatro anos.
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