É ridículo ter de começar um texto dizendo que a vítima não é santa. Não: Lula não é santo. É patético também ter de dizer que numa democracia não se deve sair atirando em pessoas, sejam elas líderes políticos ou não. Mas eis o ponto a que chegamos – os critérios mais básicos da civilização têm de ser lembrados.
Há poucos dias, quando uma vereadora do PSol foi assassinada a tiros no Rio, vimos a barbárie dos seus opositores políticos. Alguns negando a natureza política do crime; outros tentando incriminar a pobre moça de coisas que ela jamais cometeu; e outros ainda, muitos mais, dando a entender que ela mereceu o que teve.
Agora, na caravana de Lula pelo Sul do país, a história se repete. O ex-presidente foi alvo primeiro de ovos. Depois de pedras. Agora, de tiros. E, a todas essas, seus opositores não apenas não se levantaram para reclamar como em certa medida acharam, digamos, natural.
De João Doria, um tipo histriônico e antidemocrático, talvez não se pudesse esperar outra coisa. Mas Geraldo Alckmin certamente não poderia ter dito o que disse: que o PT “colhe o que plantou”. Um presidenciável com um mínimo de dignidade tem de demonstrar preocupação quando a barbárie ameaça se instalar no país, e não achar que isso é natural – desde que seja contra seus adversários.
Lula não é santo. Em seu mandato presidencial, foi ao palanque e disse que era preciso exterminar o DEM. Claro que se tratava de uma figura de linguagem, e que estava falando de derrotar o partido nas urnas. Foi massacrado por dar margem (ainda que mínima) a uma interpretação literal da fala. Ok.
Agora, o ex-presidente (e pouco interessa aqui se ele é réu, se está condenado, se é culpado de algo ou não) está sendo literalmente caçado a tiros pelo país e seus adversários dizem que é normal?
Se Lula é culpado de algo, que vá preso. Quanto a isso, há leis. Acharmos que resolvemos as coisas na base da porrada só nos devolve ao Estado de Natureza. E aquela parte extremista da direita – aquela que até Reinaldo Azevedo chama de “direita xucra” – parece querer é isso mesmo.
Curiosamente, são essas mesas pessoas que depois vêm falar em Lei e Ordem. Um horror.
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